(2012/571) Da "magia negra" de Collor ao Cordeiro morto de Deus

1.  Eu juro que fico sem nenhuma paciência... Tudo que consigo é reunir conscientemente minha educação de berço e controlar minha linguagem - mas a vontade que tenho, a vontade pulsional, é dizer uns desaforos...

2. Ontem, a Globo serviu-se da figura da "magia negra" (por que negra?, porque é africana?). A "magia" africana é negra - enquanto as roupas sacramentais do pedófilo são... brancas...

3. A magia é negra porque é do diabo... O branco, então, é de Deus. Há um profundo simbolismo racista nisso... Ainda que se vá buscar na história e na história das religiões outra origem para o símbolo do negro e do branco, entre nós, brasileiros, passou da hora de lidarmos de modo não-ético com essas questões.

4. Pior ainda o tratamento do sacrifício animal, no candomblé, como "negro". Ora, senhores, o Cordeiro morto de Deus, Jesus, cordeiro sacrificado no altar - é o quê? Pior do que sacrifício de galo, de cabrito, de boi - é sacrifício humano. E será branco? Será branca essa magia?

5. Senhores - esconde-se na religião da gente o diabo da demonização da religião do outro. Um país onde o Evangelho demoniza pela TV todos os símbolos religiosos da África, onde uma concessão pública trata como denúncia gravíssima o fato de que se fazia "magia negra" na Dinda, senhores!, isso significa que perdemos, senhores, completamente, a sanidade.

6. Quando não nos damos conta da profundidade criminosa do nosso olhar, de como ele demoniza o outro e angeliza a nós mesmos, que salvação há para nós, senhores?

7. Ao morrer, Sócrates recordou-se de dever um galo a Asclépio... Um galo de Asclépio deve ser altíssima filosofia... Já um de Exu, é diabólico. E um Cordeiro a sangrar, esse é divino...

8. Não tenho paciência para esse blá blá blá.

OSVALDO LUIZ RIBEIRO