terça-feira, 24 de abril de 2012

(2012/408) A leitura não pode ser catequese

1. Ler é bom. Necessário. Imperioso. Não ler é desastroso. Não se trata de um absoluto - mas de um "relativo" histórico: na sociedade complexa humana, em que informação é poder, não ter informação é escravizar-se. Ler é, pois, revolucionário, é alforria...

2. Ou não.

3. Há uma leitura-catequese. Lê-se para assimilar e repetir o autor. Não importa quem seja: Kant, Vattimo, Losurdo, Morin, Habermas, Vásquez, Eliade, Nietzsche, Barth... Isso é desastroso - mortal. É uma escravidão desinformada, com ar de super-inteligência. Mas não é: o sujeito que assim lê é tão escravo quanto o que não lê...

4. É preciso ler todos os autores como quem cerca a presa, como os leões e as hienas, como quem caça. É preciso ouvir, virar do avesso, olhar de cima abaixo, por dentro, por fora. É preciso fazer-se inegociavelmente advogado do diabo, procurar os erros, as falhas, as perversões...

5. Sim, sim, citar autores: mas cuidado, senhores, para que a leitura não nos torne tão crentes quanto os de banco de igreja: citar um autor é como a liturgia da paralisação do cérebro. "Ele" disse - é assim... Não, não é assim porque ele disse. Nunca é assim porque alguém disse - salvo, claro, na escravidão, em que você faz porque o outro mandou...

6. Na leitura, cada autor deve prestar contas, dar satisfações. Há leituras que são pura entrega ao mundo inventado pelo livro.

7. Há leituras que são catequese...

8. Há leitores que são catecúmenos...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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