1. Acabei de escrever um artigo para rebater as críticas que se têm feito a Mircea Eliade, especificamente aquela em que sua Fenomenologia da Religião é "acusada" de teologia protestante disfarçada, ou, em grau mais ameno, idealista, subjetivista e transcendentalista.
2. Há algum tempo, critiquei um artigo do agora "colega" Frank Usarski. Ele não gostou nada. Minha crítica foi irônica - um pouco - e ele me disse poucas e boas. Mas, ainda penso que a minha crítica era pertinente e a dele, não. Julgue-o o leitor, se assim o desejar (Experiência do Sagrado e Fenomenologia da Religião). Se eu publicasse hoje, e, em vez de em meu site, em revista, seria, óbvia e prudentemente, menos irônico, confesso.
3. Aqui na (Faculdade) Unida (de Vitória), estamos lendo, em grupo, um livro recente, de Manuel A. Vásquez, de Oxford. Os professores do Departamento de Pós-Graduação estamos preparando um "memorial" para definir as linhas de pesquisa de nosso curso de Ciências das Religiões, e, para isso, estamos lendo o livro mais atual da área, de 2011 - More than Belief - a materialist theory of religion (já está no Google Books, para quem desejar).
4. Pois bem, Vásquez faz críticas à Fenomenologia da Religião de Eliade que me parecem equivocadas. Ele a classifica como idealista, subjetivista e transcendentalista (p. 12), e que Eliade concebe um sagrado "a-histórico" (p. 72). Um dos dois, ele ou eu, não lemos Eliade...
5. No artigo, faço toda a crítica com base em dois livros de Eliade: Tratado de História das Religiões, de 1949, e Origens, de 1969 - além de outros sete. De Origens, cito esse enunciado que destrói qualquer tentativa de tratar a FR de Eliade como "idealista" e, pior ainda, "teologia protestante disfarçada" - vejam que enunciado: "'o sagrado' é um elemento da estrutura da consciência"...
6. Meus alunos de Fenomenologia da Religião aprendem isso comigo desde 2004, quando começou o curso de Teologia - MEC, do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, (acho que) único curso de Teologia do MEC, no Brasil, que tem Fenomenologia da Religião na Graduação como disciplina. E lá eu já ensinava que o "sagrado", para Eliade, não é uma coisa, um ser, mas um elemento da estrutura da consciência humana, e que a experiência do sagrado, em Eliade, não é uma experiência de conteúdo, um encontro com "alguma coisa", mas uma experiência sem conteúdo, que os homens preencheram histórico-culturalmente.
7. Penso que muito pouca gente leu Origens. Também acho que muita gente que fala de Eliade fala por meio de terceiros. Porque eu não precisei de Origens para entender que o "sagrado" em Eliade não tem nada a ver com o "divino" - Origens foi apenas a confirmação - e que confirmação. No Tratado, isso já está razoavelmente claro. Quem confunde o que Eliade descreve como fé do sujeito de fé com a compreensão que o próprio Eliade tem desse fenômeno comete um gravíssimo equívoco.
8. Eu já havia escrito uma crítica ao prefácio de Origens (“Experiência do sagrado” e “religião” – hiperonomia hermenêutica e atualização cultural – Análise do prefácio de Origens, de Mircea Eliade"). Mas, acho que não é o caso nem de o criticar, ainda, mas de o divulgar - porque acho que se desconhece, mesmo entre os críticos de Eliade, que ele considerava, já em 1969, que o sagrado não era uma coisa, mas um elemento estruturante da consciência humana, de sorte que toda a experiência que se desdobra daí é antropológica, histórica e situada.
9. Enquanto se critica Eliade, equivocadamente, como teólogo disfarçado ou um Platão ressuscitado, Eliade prepara a ante-sala das neurociências... Brayan Rennie fala de ciências cognitivas - mas eu acho que ainda é mais do que isso...
10. Vamos ver se consigo publicar numa revista Qualis... Depois, divulgo aqui.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
Não encontrei Experiência do Sagrado e Fenomenologia da Religião. Tem como você disponibilizar? Grato.
junior_costa@live.com
O site em que estava (ouviroevento) saiu do ar. Não sei se tornarei a publicar.
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