sábado, 7 de abril de 2012

(2012/372) Zé Ramalho - meu mago primeiro das memórias da tchau-infância

1. Beira-mar - coisa linda. Nordestina e grega, ao mesmo tempo.

2. Zé Ramalho. Meu mago predileto  e querido.

3. Meu bruxo de dizer coisas como poucos.

4. Nordeste, Nordeste... Teus filhos são Ícaros, em cujas asas o Sol não pôde nem pode pôr fogo...

5. Subi, meus queridos! Subi!


Beira-mar
Zé Ramalho

Eu entendo a noite como um oceano
Que banha de sombras o mundo de sol
Aurora que luta por um arrebol
Em cores vibrantes e ar soberano
Um olho que mira nunca o engano
Durante o instante que vou contemplar

Além, muito além onde quero chegar
Caindo a noite me lançou no mundo
Além do limite do vale profundo
Que sempre começa na beira do mar
É na beira do mar

Olhe, por dentro das águas há quadros e sonhos
E coisas que sonham o mundo dos vivos
Há peixes milagrosos, insetos nocivos
Paisagens abertas, desertos medonhos
Léguas cansativas, caminhos tristonhos
Que fazem o homem se desenganar
Há peixes que lutam para se salvar
Daqueles que caçam em mar nebuloso
E outros que devoram com gênio assombroso
As vidas que caem na beira do mar
É na beira do mar

E até que a morte eu sinta chegando
Prossigo cantando, beijando o espaço
Além do cabelo que desembaraço
Invoco as águas a vir inundando
Pessoas e coisas que vão se arrastando
Do meu pensamento já podem lavar
Ah! no peixe de asas eu quero voar
Sair do oceano de tez poluída
Cantar um galope fechando a ferida
Que só cicatriza na beira do mar
É na beira do mar







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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