sábado, 17 de março de 2012

(2012/293) Cristãos e islamitas podem conviver em paz

1. A despeito do passado de sangue - muito mais culpa cristã do que islamita -, cristãos e muçulmanos podem - devem - conviver em paz. O mundo depende disso.

2. Não é verdade, é falsa a impressão que se tem de uma natural indisposição entre cristãos e islamitas. Esaú e Jacó - judeus e árabes, vêm da mesma raiz. Os cristãos, por mais que o neguem, são judeus espirituais. O Islã nasceu do encontro de Mohamed com judeus e cristãos - as Escrituras judaico-cristãs são citadas inúmeras vezes no Corão. Corão esse que reconhece os cristãos como próximos dos islamitas. 

3. De nossa parte, cristãos que somos, cabe fazer todo o mea culpa necessário. Nossa tradição é terrível. Disfarçada sob a bandeira do amor, vivem dragões sedentos de sangue. A história que nos conta a Bíblia, sobre Deus, é penosa de ler. Deus mata a humanidade toda no dilúvio. Depois, mata os egípcios no Mar. Depois, mata todos os judeus no deserto. Depois, mata todos os cananeus. Depois, mata os judeus de novo. Os judeus cansaram-se tanto que obrigaram-no a se tornar bonzinho - é esse o Deus do Novo Testamento, uma candura.

4. Mas era tarde. Os livros sagrados já pingavam sangue. Os cristãos leram esse livro e sua boca salivou. Guerra é o sobrenome cristão. Cruzadas. América - dizimação imperdoável de milhões de pessoas. No Sul, maias, astecas, incas. No norte, pele-vermelhas. Os negros, coitados, escravizados, humilhados, estuprados, vendidos, enforcados, queimados. Na Ásia, quanto crime!

5. Aí, os Estados Unidos se auto-proclamam uma religião nacional - a religião de Deus. Invadem o país de qualquer um, preferencialmente islâmicos. Matam, Roubam. Humilham. E lá estão - aos olhos do mundo - como cristãos.

6. E como querem que os islamitas reajam? Adorando Jesus? Não - pelo contrário: odiarão Jesus, Deus, a Bíblia, com o ódio dos estuprados.

7. Malditos Estados Unidos da América (1).

8. A despeito deles, desses cristãos de fuzil, é possível a tentativa de paz entre cristãos e islamitas - entre Jesus e Mohamed. Há mesmo tentativas de diálogos, prejudicadas desde a Revolução Islâmica de há poucas décadas, mas, nem por isso, impossíveis.

9. Não acredito que será em torno dos deuses - de Deus e de Alá - que se vão criar as condições seguras de paz. São os homens, não os deuses, a fazer as pazes. Em todo caso, é ainda por meio dos mitos que se age, ali, onde se tem nos mitos o retrato da realidade.

10. Pragmaticamente falando, então, que seja: que Jesus e Mohamed sentem à mesa, com seus filhos e irmãos.

11. A revista Magis tem um número especial sobre diálogo cristão e islamita. Leia. Divulgue. Invista nisso. Dedique-se a fazer crida a paz entre esses dois povos.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

(1) Cf. Domenico Losurdo, A Linguagem do Império - léxico da ideologia estadunidense. São Paulo: Boitempo, 2010.

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