sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

(2012/058) Tradição filosófico-hermética e misticismo quântico



1. É apenas uma hipótese. Pessoalmente, não estou em condições de fundamentar minha intuição. Mas eu diria que a corrente místico-quântica que invadiu o século XX é devedora direta das correntes herméticas anteriores à Física Quântica, tendo operado sobre a consciência dos físicos no processo de interpretação dos fenômenos sub-atômicos - muitos dentre os físicos eram profundos conhecedores das tradições herméticas.

2. O hermetismo, a alquimia, a Filosofia Perene, as tradições esotéricas foram fenômenos culturais muito importantes na história do Ocidente. A ciência, de um lado, e a teologia, de outro, rivalizaram com essas tradições, mas, no fundo, nasceram dentro delas. Separarem-se mesmo umas das outras é fenômeno recente, talvez datável no final do século XIX. Ísis sem Véu, de Madame Blavatsky é o material mais conhecido, eu acho, representativo desse rompimento - no entender dela, refutam-se, nos quatro volumes, a ciência e a teologia. Leitura recomendável, a despeito de seu recorte epistemológico heterodoxo, seja para um cientista, seja para um teólogo.

3. Para mim, há um rio hermético subterrâneo correndo sob a história da ciência, produzindo-a em seus primeiros dias. Assim como a teologia revelada, na Reforma, pariu a exegese que, nascida, rebelou-se contra a mãe, tornando-se independente e recorrendo a métodos e pressupostos próprios, a ciência, nascida sob o influxo daquele rio esotérico, à medida de cresceu, igualmente tornou-se independente de sua mãe, também assumindo métodos e pressupostos próprios. Nesse caso, a meu ver a teologia está para a exegese como a corrente esotérica está para a ciência.

4. Todavia, a Física Quântica deu azo (falo em tese) a uma interpretação dos fenômenos profundos do real que estivesse muito mais alinhada com a mãe esotérica do que com a filha ciência. Assim, não me admira que a retórica de divulgação da física quântica propicie essa narrativa pós-moderna e mística, quase-religiosa, se não já.

5. Do mesmo modo, não me admira que a teologia se aproxime dessa corrente. No fundo, são iguais. Não há nada de sólido, no fundo, mas o castelo que se constrói parece tão agradável, tão bonito, é tudo tão divino, que parece satisfazer à demanda de verdade e paz que a alma humana alimenta.

6. Oxalá não sejam falsas nem uma nem a outra. Mas tenho minhas profundas dúvidas.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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