1. Saímos do lodo. Saímos da Natureza. Nos dois sentidos: viemos de lá, e deixamos aquelas terras. Saímos de lá e lá não é mais nosso mundo. Isso, precisamente isso, dá-nos a condição de olhar na cara da Natureza e arrostar-lhe sua crueldade: nós, humanos, tornamo-nos humanos - e isso significa não estar mais atrelado à lei do mais forte, à selvageria, à barbárie... Nesses termos, afrontar a Natureza é afrontar o próprio Deus, nós, meros mortais...
2. Do alto de sua serenidade - o verdadeiro poder é assim, sereno (coléricos são os deuses em via de desaparecerem! [isso explica a Inquisição!]), a Natureza olha para nós, e nos dá duas respostas.
3. Ela, Natureza, é cruel. Sim, ela sabe, ela reconhece. É-o por essência. Quanto a nós, que saímos dela, que razão usaremos para justificar as nossas perversidades? E em nome de que moral, de que ética, acusaremos a Máquina de ser Máquina, nós, carne e osso a carregar toneladas de maldade no corpo? Se, de fato saímos de lá, ela argumenta, por que, na prática, ainda impera, entre nós, a Lei da selva?
4. E mais: sim, a violência bruta impera na Natureza - mas isso implica em ordem, perfeita harmonia. Ali, dormem juntas a dor e a vida, a morte e o prazer. E entre vós? Se sois tão altivos e orgulhosos, porque a sua civilização é, sempre, desordem, desequilíbrio, definhamento, destruição?
5. E nós, homens, descobrimos, então, que colocamos a cabeça para fora do lodo, apenas para saber que é mais fácil olhar de frente a Natureza do que deixá-la de vez...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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