1. Tem a China e a Índia - e isso pesa à beça. Logo, não sabendo exatamente como contar a China, mas considerando a Índia "espiritualíssima", talvez seja justo considerar que mais da metade, mais, mais de 2/3, talvez mais de 3/4, 4/5, 9/10 da humanidade joguem o jogo de falar em nome de Deus - ou dos Deuses - e de acreditar em quem fale em nome deles.
2. Não, não se trata exatamente da mesma coisa de se crer em Deus ou Deuses, porque você pode crer nele(s) e, ainda assim, não considerar consistente o discurso de quem pretenda fazer as vezes de boca divina. Assim, refiro-me rigorosamente ao jogo não de crer nos deuses, mas de pretender que se fale em nome deles.
3. Talvez pelo fato de eu ser ocidental, "iluminista". Não significa grande coisa, já que muito ocidental - a maioria, até - e "iluminista" joga, ainda, esse jogo.
4. Só me parece que, para um ocidental, jogar esse jogo revela-se cada vez mais anacrônico e incoerente. Salvo, claro, se o Ocidente desfizer o que tem feito nos últimos duzentos anos, e retornar ao seu jogo continental de milênios: qualquer um que fale três ou quatro palavras em nome de Deus, sê bem-vindo...
5. Não sei o que vai ser do futuro. Só sei que fica cada vez mais difícil encarar a face de um homem por cuja boca saiam palavras que pretendem ser cridas como divinas, ou neles inspiradas. O corpo quer sair correndo, seja de medo, seja de constrangimento.
6. Mas, se até na academia, até no MEC, os grandes barões da Teologia desejam uma Teologia "boca de Deus", que direito tenho eu de constranger-me do dia a dia das multidões?
7. Não vem bem a calhar essa reflexão nesses dias de Papai Noel?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
E o que se faz quando se està no limbo existencial, e se viaja durante as pregações, e se tem parentes que reclamam porque "não queremos mais servir a Deus"? Ai é que estou ferrada mesmo...
Bem, não tenho essa experiência, felizmente. O respeito ajuda, mas sua autonomia deve contar também. No fundo, ninguém escapa de uma boa conversa, franca, respeitosa, aberta.
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