1. No fundo, o que há são "Cristos". Nos Evangelhos, diferentes "memórias" - criativas que só elas - confluem, às vezes não muito harmoniosamente, para a construção de camadas de tradição. Em cada camada, diferentes tradições jesuânicas são elaboradas, e, nesse caso, deve-se falar de "Cristos", e, não, de "Cristo". Não se trata, quero crer, aí, do Jesus histórico. Nem o da fé - mas os das "fés", por assim dizer.
2. Pois bem - numa dessas tradições, Jesus é um inimigo do Templo: tudo que o Templo tem a dizer, ele diz o contrário. Deus é rei? Não, é paizinho. Tem-se que orar no Templo: Não, no seu quarto. Coisas assim.
3. Pois bem - o cordeiro sacrificado é um elemento religioso dos ritos do Templo. O que será que "esse" Jesus, "dessa" tradição contra-templária teria a dizer se soubesse que a sua imagem, a de todos os "Cristos", passou pelo funil unificador do "sacrifício"?
4. O cordeiro lembra que todo judeu é mau e deve morrer, exceto se sacrificar no Templo... Contrariamente a essa teologia, à mulher, dita flagrada em adultério, Jesus disse que não a condenava. Ora, se Jesus - esse! - não a condenava, que sentido faz o cordeiro?, e que sentido faz ele como Cordeiro? Para esse, nenhum... Só mesmo - ou talvez - uma comunidade expulsa do judaísmo para cooptar para si, para tomar "deles", seu símbolo máximo: briga de clãs...
5. Antes da fé em Cristo é preciso ser, primeiro, judeu, e acreditar, até a morte, que todo judeu - e pior ainda, todo ser humano - é mau e deve morrer, segundo a apreciação geral de Deus. É por isso que, primeiro, se prega o inferno e, depois, a cruz. Mas se você considera essa teologia judaica sem sentido, mais do que isso, política, bem, nesse caso não faz sentido a leitura judaica que se fez sobre Jesus, depois tornada cristã, e única.
6. Todavia, você não está autorizado a pensar. Só a repetir. E, acredite, não o que eu digo, se me entende...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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