1. Eu insisto ainda: não, a democracia não é, nem de longe, um "valor" do CRISTIANISMO. Se com Cristianismo queremos nos referir ao que historicamente "ele" foi - e não utopias idealizadas e nunca de fato materializadas, salvo em reconstruções alegóricas de retóricas engajadas - então grafo em negrito: não, o Cristianismo não tem nada a ver com democracia.
2. Não me refiro ao Vaticano - apenas. Também os Cristianismos evangélicos e protestantes, ortodoxos, todos, nenhum deles tem a alma democrática - são, todos, sem exceção, clericais, teocráticos, episcopais - na prática. O Protestantismo, além do mais, carregado está de uma hipocrisia de fundo, difícil de lavar com água. O fato de dizer-se democrático, de empregar - desavergonhadamente - expressões como "sacerdócio universal", "livre-exame", meras palavras sem qualquer efeito político concreto, não faz do Protestantismo alguma coisa mais democrática do que o Catolicismo.
3. A diferença entre um e outro é que não há para onde correr no Catolicismo, de modo que Boffs, Küngs e outros sempre abaixam a cabeça e calam a boca - até abandonarem a batina. No limite, administram a resistência que fazem - e fazem! Se cansam - e cansam - entregam as armas, e vão labutar "fora" da Igreja. No Protestantismo, todavia, esse aqui desgosta-se do "deus de plantão" - então ele sai, abre/funda uma Igreja e vira, ele mesmo, o deus de plantão da vez... O Protestantismo é politeísta!
4. Democracia, faz-me rir...
5. O que talvez se possa dizer é que há valores potencialmente democráticos dentro da tradição escriturística do Cristianismo - mas, alto lá: nunca é porção representativa do "poder oficial": os textos carregados de valores democráticos são aqueles da periferia, que, histórico-socialmente, correspondem às resistências proféticas e sapienciais ao centro jerosolimitano (ainda que haja tradições "proféticas" nada democráticas - Deus nunca é democrático, anote-se...).
6. Assim, é verdade que se pode recorrer às Escrituras na defesa de valores democráticos: mas, se isso se faz desde o centro do poder, é sarcasmo e falsidade. Lá e cá, a democracia vale, apenas, para a periferia, para a resistência, para a crítica. No centro, "deus" - absoluto.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Osvaldo, concordo com voce, a diferença tem muito mais a ver com o católico nao ter para onde correr e o protestante ainda tem algum refúgio.
Chega a dizer, no entanto, que no protestantismo o fundamentalismo é mais perigoso porque nao tem cara e se nao tem cara as pessoas nao veem e nao sabem que está aí.
No catolicismo o papa é infalível, no protestantismo é a hermeneutica fundamentalista.
De qualquer forma nao creio que isso faça parte somente do cristianismo. Toda instituiçao tem suas crontradiçoes mesmo.
Rodrigo.
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