domingo, 23 de outubro de 2011

(2011/503) De novo - Cristianismo e democracia


1. Eu insisto ainda: não, a democracia não é, nem de longe, um "valor" do CRISTIANISMO. Se com Cristianismo queremos nos referir ao que historicamente "ele" foi - e não utopias idealizadas e nunca de fato materializadas, salvo em reconstruções alegóricas de retóricas engajadas - então grafo em negrito: não, o Cristianismo não tem nada a ver com democracia.

2. Não me refiro ao Vaticano - apenas. Também os Cristianismos evangélicos e protestantes, ortodoxos, todos, nenhum deles tem a alma democrática - são, todos, sem exceção, clericais, teocráticos, episcopais - na prática. O Protestantismo, além do mais, carregado está de uma hipocrisia de fundo, difícil de lavar com água. O fato de dizer-se democrático, de empregar - desavergonhadamente - expressões como "sacerdócio universal", "livre-exame", meras palavras sem qualquer efeito político concreto, não faz do Protestantismo alguma coisa mais democrática do que o Catolicismo.

3. A diferença entre um e outro é que não há para onde correr no Catolicismo, de modo que Boffs, Küngs e outros sempre abaixam a cabeça e calam a boca - até abandonarem a batina. No limite, administram a resistência que fazem - e fazem! Se cansam - e cansam - entregam as armas, e vão labutar "fora" da Igreja. No Protestantismo, todavia, esse aqui desgosta-se do "deus de plantão" - então ele sai, abre/funda uma Igreja e vira, ele mesmo, o deus de plantão da vez... O Protestantismo é politeísta!

4. Democracia, faz-me rir...

5. O que talvez se possa dizer é que há valores potencialmente democráticos dentro da tradição escriturística do Cristianismo - mas, alto lá: nunca é porção representativa do "poder oficial": os textos carregados de valores democráticos são aqueles da periferia, que, histórico-socialmente, correspondem às resistências proféticas e sapienciais ao centro jerosolimitano (ainda que haja tradições "proféticas" nada democráticas - Deus nunca é democrático, anote-se...).

6. Assim, é verdade que se pode recorrer às Escrituras na defesa de valores democráticos: mas, se isso se faz desde o centro do poder, é sarcasmo e falsidade. Lá e cá, a democracia vale, apenas, para a periferia, para a resistência, para a crítica. No centro, "deus" - absoluto.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Blogue Cast disse...

Osvaldo, concordo com voce, a diferença tem muito mais a ver com o católico nao ter para onde correr e o protestante ainda tem algum refúgio.

Chega a dizer, no entanto, que no protestantismo o fundamentalismo é mais perigoso porque nao tem cara e se nao tem cara as pessoas nao veem e nao sabem que está aí.

No catolicismo o papa é infalível, no protestantismo é a hermeneutica fundamentalista.

De qualquer forma nao creio que isso faça parte somente do cristianismo. Toda instituiçao tem suas crontradiçoes mesmo.

Rodrigo.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio