domingo, 19 de junho de 2011

(2011/369) Reforma, no que teve de bom e no que teve de mau valeu apenas para o seu início...


1. Sirvo-me de Heine, para o que recorro a Losurdo (Domenico Losurdo, Nietzsche, o rebelde aristocrata, p. 954). Heine teria dito: "disse antes que o espiritualismo atacou (...) o catolicismo. Mas isso vale apenas para o início da Reforma; assim que o espiritualismo abriu uma brecha no antigo edifício eclesiástico, explodiu o sensualismo com todo o seu ardor há tempo reprimido (...)" (itálicos meus).

2. O "espiritualismo", que para Heine foi um "mau", rachou as pedras da catedral cristã, e metamorfoseou-se em sensualismo - outro modo de dizer que a Reforma está na origem imediata do Ocidente moderno.

3. Mas não foi apenas o "mau" da Reforma que durou apenas um segundo, "apenas para o (seu) início". Também o "bom" da Reforma teve curtíssima duração. E ainda menor!

4. Quanto tempo durou o princípio do livre-exame? Dez minutos - até que Lutero saísse da presença do Papa e fundasse, ele mesmo, sua própria igreja. Quanto tempo durou a doutrina do sacerdócio universal do crente? Onze minutos, sendo cassada assim que o princípio do livre-exame foi degredado, e com ele se foram todos os sacerdotes de si, e permaneceu, de pé, no Santo dos Santos, o Papa que tem cada igreja evangélica e protestante, papas de barro e cara pintada, mas, para os fins desse "jogo", papas.

5. Quase se diria que nada que a Reforma pretendeu fazer e disse que fazia de fato fez. Deu-se o inverso. No bom e no mau, para o bem e para o mal Onde era má, fez-se, afinal, boa a sopa. E onde era, de fato, boa, estragou o caldo, que chega a feder e dar bichos.

6. Eu escolho assim: fico com o "bom" princípio (degredado, nunca de fato empregado até hoje), e fico com o "mau" resultado não pretendido do sensualismo. Escolho o livre-exame e os sentidos, e fique a Reforma, e todos os seus, com os pequenos papas de riso e o espírito.

7. E acaso assim, não sou, afinal, também eu, legítimo filho da Reforma? E não haverei de também eu celebrar os 500 anos dessa espécie de farsa que, enquanto farsa, falhou? Pois me aguardem!


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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