quinta-feira, 3 de março de 2011

(2011/128) Porque a Europa ainda dá as cartas ou "tudo-que-seu-mestre-mandar-faremos-todos"


1. Vejam vocês, meus amigos - quando foi que a religião desapareceu? Pensemos nas religiões mais populosas do globo: na Ásia, desapareceu? Não! Na África, desapareceu? Não! Na América, desapareceu? Não! Na Oceania, até lá!, desapareceu? Não! E por que raios os livros "cabeça" falam de "reencantamento do mundo"? Como assim, "re-encantamento" do mundo? E quando foi que ele se desencantou? Quando foi que ele deixou de ser "encantado", isto é, mágico, carregado de sacralidade e religião? Nunquinha da silva.

2. Olhem isso: Derrida. Um filósofo francês, da crítica à crítica. Ele refere-se a jornais franceses falando todo dia no retorno da religião... Isso é 28 de fevereiro de 1994, ele data (1). Percebem? Os Europeus - mas cuidado!, europeus de uma certa Europa, a Europa "nobre", justamente a "cristã" - quem diria! -, ali, no centrão, no primeiríssimo dos primeiros mundos, os europeus, eu dizia, saíram com essa tese do desencantamento do mundo, que Weber erscreveu, e todos repetem. Muito engraçado isso: na pesquisa, você não pode falar por si, você não pode, você mesmo, debruçar-se sobre o objeto, tem de usar, para isso, um outro - um Weber, por exemplo: Weber pode! Mas o que Weber, de fato, viu? Viu nada, e o que viu, se é que viu - eu duvido! - viu em relação a uma parcela de uma parcela da Europa. Mas, como é da Europa, é a única coisa a ser vita - é regra. O resto, é nada...

3. Compreendo Weber. É europeu, tem essa empáfia natural, somática, própria da Europa, a ave de rapina do mundo. O que eu acho o fim da picada é gente nossa, do Terceiro dos Mundo, do fiofó do mundo, do cu do mundo, digamo-lo logo, deixar-se encantar, enamorar, enfeitiçar pelas teses europeias, mesmo essas, cegas e míopes, e sair por aí a repeti-las - sem qualquer crítica... Mas que submissão cega é essa? Porque eles falam francês?, alemão? a língua do pê? E daí? Juntem-se todos os seus estadistas e não dá um Lula! Mas quem é que dita a moda da academia - a Teológica, então, nem se fala? As Zoropas... Nós, lá vamos atrás, repetindo... Que se critique, antes, com severidade: que se exijam deles os que exigem de nós - satisfação de seus conteúdos defendidos. Esse, do desencantamento do mundo, não vale um traque de mula...

4. Primeiro, duvido que a religião tenha sumido mesmo da Europa. Mas é que tudo-que-seu-mestre-mandar mandou dizer que sumiu, que houve desencantamento, aí todo mundo vai no trenzinho. Aí, quando as tampas estão que não dão conta de esconder o angu, quando a religião está entulhada nas escolas francesas, nas ruas, lá vem a solução de gênio: reencantamento... É de morrer de rir. De fato, os discursos não dão conta do real mesmo (outra tese européia!). Eles inventam um real pra si. Eventualmente, pra vender livro... Ou deve ser o vinho...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

1) DERRIDA, Jacques e VATTIMO, Gianni. A Religião. Estação Liberdade, 2004, p. 12.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio