quarta-feira, 2 de março de 2011

(2011/125) Não acredito em ensino


1. Não acredito em ensino. Sou professor. Mas não acredito em ensino. Só acredito em aprendizagem, e acredito que posso ajudar - eventualmente, muito! - quem deseja aprender. Todavia, se o estudante não deseja aprender, não há nada que posso fazer: logo, sou inútil. Minha utilidade depende de uma decisão soberana do educando...

2. O policial, não. Mesmo que o ladrão não queira, ele vai lá e prende. O professor, não. Nem que o prendessem - um estudante não aprende por repetir as coisas que o professor "ensina": aprende por incorporar, se incorporar, ao sangue, ao DNA, ao corpo, a seu cadinho de valores, aquilo que aprende(u). Aprender é pôr na veia. Na cabeça, é decorar...

3. Por isso, prefiro a pesquisa ao "ensino". Porque eu sou, sobretudo, aluno, estudante, educando - sede inesgotável de aprender... Por trás de minha crítica ácida e inegociável, reside uma criança - pulsa em minha a curiosidade irrefreável. Aprendi com Morente, o filósofo: admiração... e rigor! Curiosidade... e crítica! Brincar, ao mesmo tempo, à brinca e à vera...

4. De vez em quando deparo-me com "mestres" que acham que ensinam, e, em minha concha, fecho-me, depois de perceber que ali, diante de mim, vai a prepotência do saber, com pernas e tripas, e tanto "saber" não lhe deu a consciência da absoluta inutilidade axial, e de que seu valor depende de minha abertura...

5. Entrar em sala de aula e saber-se incapaz para a tarefa - daí a necessidade muito maior de evidenciar a relevância da coisa estudada: pode ser assim que os alunos despertem seu interesse para o aprendizado - em que são soberanos. E isso se, de fato, a coisa toda for mesmo relevante... vai que não passa de uma ficção tradicional, regada a emprego e carreira?



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio