quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

(2011/108) Por que não posso ser um niilista trágico, conquanto seja um trágico


1. Meu amigo Jimmy e eu vivemos às voltas com o niilismo trágico, o cristianismo niilista trágico, os poetas e filósofos desgraçados e infelizes, os ébrios do Vazio da existência trágica, os nostálgicos do Profundo, da Idéia, do Ser, para os quais, onde passa Heráclito, passa o Nada, e onde jaz o Ser, tudo jaz... Thanatos fez seu ninho na retina deles...

2. Eu compreendo intelectualmente tudo isso. Juro! Sei delinear todos os argumentos - todos! Sei até ver o que eles vêm, e sentir seu coração palpitar de terror. Sei, porque eu vejo a mesma coisa - o Vazio, o Nada, o Terror da noite - e, meus amigos, não se trata daquela noite de Lua de Kierkegaard, que, se fora a Noite mesmo, o que ele vira, não teria saltado, não, acreditem - e só saltou porque nunca deixou de ver o que sempre viu - se me entendem...

3. Todavia, porque não posso desesperar? Não, não é porque guardo Deus no bolso da camisa, e o consulto, para ver se ainda está lá. Não. Eu não desespero porque não sou platônico, porque não me entreguei definitivamente, dia algum, ao Outro Lado - amo desesperadamente a vida na carne, no corpo, no chão. O Deus-que-me-há mora cá. Eu quero a felicidade, a alegria, eu quero a vida - e tanto, e tanto, meu amigo, que não preciso disfarçá-la com coroas de flores e ungüentos, com incensos e rituais antigos - basta a vida beijar-me o dia. Basta Bel. Basta a vida. Nada mais. Eu sou daqueles que desgosta dos filmes que, quando o casal finalmente se encontra, acaba - é o vício dos mal-amados, cuidar que tudo se resume à busca...

4. Trágico, sim, mas infeliz, não. E também isso não é mérito - é dádiva desse corpo que decidiu querer a felicidade... e a constrói, de pouquinho em pouquinho, para não estragar...

5. Faz sentido pra ti?


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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