1. Meu amigo, Julio Zabatiero, viajou até Peroratio e fez considerações acerca de coisas que escrevi sobre a intenção do autor como critério crítico para a "correta" interpretação de textos (para os comentários, cf. aqui). Não vou "fugir", não...
2. Antes de prosseguir, diria que qualquer um pode, se desejar, interpretar da forma como queira - não está em meu desejo, se me faço crer, determinar como qualquer pessoa deva interpretar os textos que escolha.
3. Mais: o meu desejo e todo meu investimento corporal, somático, dá-se na direção de descobrir por que raios de processo "real" chegamos a entender o que uma pessoa escreveu. Se eu estiver errado, ficarei, todavia, feliz em ter descoberto, afinal, como "eu" mesmo funciono. Porque, para mim, não se trata de jogo de palavras, argumentos trocados como figurinhas, mas de uma pesquisa em face do "real" tal qual ele se dá e se manifesta à minha consciência.
4. Dito isso, vamos às peguntas de meu amigo: "(1) onde encontrar a "intenção" do autor senão na hipótese interpretativa do leitor? (2) Há alguma evidência material (textual/linguageira/linguística) que possa nos fazer remeter do texto ao "autor" "sem sombra de dúvidas"? (3) como manter o papel da "intenção autoral" como referencial hermenêutico se não aderimos mais à "filosofia da consciência" (ou "do sujeito") cartesiana e/ou iluminsta? Em outras palavras, como ler e seguir Morin e manter o postulado historicista e iluminista da "intenção do autor" intocável?".
5. Primeira pergunta: não se pode confundir critério de verificação de sentido, teoria do texto, com operador hermenêutico: o operador hermenêutico será sempre o leitor - é ele que lê, e só ele. Todavia, quando ele lê, pode entregar-se a experiências estético-literárias de variadíssima gama com o texto, ou pode arriscar o esforço de compreensão histórica desse mesmo texto. Assim, a "intenção do autor" é uma hipótese do leitor, com a qual ele se arma das ferramentas histórico-críticas (sei que você desgosta do termo - perdão pelo acinte!) para tentar, dentre a barafunda polissêmica do texto, encontrá-la.
6. A sua segunda questão é capciosa: nada há - nada! - que seja sem sombra de dúvidas em Ciências Humanas. Mesmo a interpretação semiótica! De modo que não é essa questão. Se você tivesse ficado na primeira parte da questão, sem esse final dispensável, posto que universal para todo esforço científico-humanista, teria sido uma senhora questão. O que de "material" há no texto que possa me remeter à hipótese da intenção do texto? Isto é: quando eu digo que "essa" ou "aquela" fora a intenção do autor, qual minha base material para o descrever? Belíssima questão - e prometo me dedicar a refletir sobre isso. Hoje, meu argumento é longo. Em síntese: somente pela hipótese plausível de reconstrução do cenário xis, dentro do qual o autor ypsilon escreveu o texto em tela para interagir sob essa ou aquela intenção. Assim, os elementos seriam sintáticos, retóricos, semânticos, lingüísticos, mas não isoladamente - mas no conjunto complexo do próprio texto, sendo que cada palavra, em si, e o todo, têm amarrado em si fios com os quais a intencionalidade do autor as reúne num discurso unificado por um centro de controle unificador.
7. Aqui está um ponto delicado: esse centro evidencia-se desde o próprio texto! E aqui reside aquele ponto do argumento em que a semiótica não intencional pode dizer - viu?, não falei!?, e dar a questão por terminada. Todavia, não há um único centro unificador que garanta plausibilidade à interpretação: podem evidenciar-se mais de um, e, nesse caso, vem à tona com toda força o fato de que o autor não pode ter usado mais de um ponto - é sempre sua mão que segura os fios. De modo que o critério continua sendo ele, o autor - qual os centros unificadores, portadores da dimensão de plausibilidade da leitura corresponde ao que o autor sustentou - e sustenta? Naturalmente que se trata de um interesse puramente histórico-crítico, plenamente dispensável às leituras não-críticas. Prometo dedicar-me a esse ponto.
8. A questão três não ficou clara para mim. Aguardo esclarecimentos.
9. Por ora, ficamos assim: sua provocação quanto ao ponto de contato entre a hipótese e sua materialização - como seguir o texto até a aventada intencionalidade autoral que o marca.
2. Antes de prosseguir, diria que qualquer um pode, se desejar, interpretar da forma como queira - não está em meu desejo, se me faço crer, determinar como qualquer pessoa deva interpretar os textos que escolha.
3. Mais: o meu desejo e todo meu investimento corporal, somático, dá-se na direção de descobrir por que raios de processo "real" chegamos a entender o que uma pessoa escreveu. Se eu estiver errado, ficarei, todavia, feliz em ter descoberto, afinal, como "eu" mesmo funciono. Porque, para mim, não se trata de jogo de palavras, argumentos trocados como figurinhas, mas de uma pesquisa em face do "real" tal qual ele se dá e se manifesta à minha consciência.
4. Dito isso, vamos às peguntas de meu amigo: "(1) onde encontrar a "intenção" do autor senão na hipótese interpretativa do leitor? (2) Há alguma evidência material (textual/linguageira/linguística) que possa nos fazer remeter do texto ao "autor" "sem sombra de dúvidas"? (3) como manter o papel da "intenção autoral" como referencial hermenêutico se não aderimos mais à "filosofia da consciência" (ou "do sujeito") cartesiana e/ou iluminsta? Em outras palavras, como ler e seguir Morin e manter o postulado historicista e iluminista da "intenção do autor" intocável?".
5. Primeira pergunta: não se pode confundir critério de verificação de sentido, teoria do texto, com operador hermenêutico: o operador hermenêutico será sempre o leitor - é ele que lê, e só ele. Todavia, quando ele lê, pode entregar-se a experiências estético-literárias de variadíssima gama com o texto, ou pode arriscar o esforço de compreensão histórica desse mesmo texto. Assim, a "intenção do autor" é uma hipótese do leitor, com a qual ele se arma das ferramentas histórico-críticas (sei que você desgosta do termo - perdão pelo acinte!) para tentar, dentre a barafunda polissêmica do texto, encontrá-la.
6. A sua segunda questão é capciosa: nada há - nada! - que seja sem sombra de dúvidas em Ciências Humanas. Mesmo a interpretação semiótica! De modo que não é essa questão. Se você tivesse ficado na primeira parte da questão, sem esse final dispensável, posto que universal para todo esforço científico-humanista, teria sido uma senhora questão. O que de "material" há no texto que possa me remeter à hipótese da intenção do texto? Isto é: quando eu digo que "essa" ou "aquela" fora a intenção do autor, qual minha base material para o descrever? Belíssima questão - e prometo me dedicar a refletir sobre isso. Hoje, meu argumento é longo. Em síntese: somente pela hipótese plausível de reconstrução do cenário xis, dentro do qual o autor ypsilon escreveu o texto em tela para interagir sob essa ou aquela intenção. Assim, os elementos seriam sintáticos, retóricos, semânticos, lingüísticos, mas não isoladamente - mas no conjunto complexo do próprio texto, sendo que cada palavra, em si, e o todo, têm amarrado em si fios com os quais a intencionalidade do autor as reúne num discurso unificado por um centro de controle unificador.
7. Aqui está um ponto delicado: esse centro evidencia-se desde o próprio texto! E aqui reside aquele ponto do argumento em que a semiótica não intencional pode dizer - viu?, não falei!?, e dar a questão por terminada. Todavia, não há um único centro unificador que garanta plausibilidade à interpretação: podem evidenciar-se mais de um, e, nesse caso, vem à tona com toda força o fato de que o autor não pode ter usado mais de um ponto - é sempre sua mão que segura os fios. De modo que o critério continua sendo ele, o autor - qual os centros unificadores, portadores da dimensão de plausibilidade da leitura corresponde ao que o autor sustentou - e sustenta? Naturalmente que se trata de um interesse puramente histórico-crítico, plenamente dispensável às leituras não-críticas. Prometo dedicar-me a esse ponto.
8. A questão três não ficou clara para mim. Aguardo esclarecimentos.
9. Por ora, ficamos assim: sua provocação quanto ao ponto de contato entre a hipótese e sua materialização - como seguir o texto até a aventada intencionalidade autoral que o marca.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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