sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

(2010/641) Simone Weil, uma escrava - como Nietzsche queria



1. Somos nossos caminhos. Frase de efeito, que, todavia, não é de todo equivocada. A memória da procissão dos barqueiros do Volga, cantos de mulheres de uma tristeza que ela disse dilacerante, arrancaram-na uma confissão: "ali, de repente, tive a certeza de que o cristianismo é, por excelência, a religião dos escravos, de que os escravos não podem deixar de aderir a ele, e eu com eles" (Giulia Paola Di Nicola, "Simone Weil (1909-1943 - Vocação e provocação", em PENZO, G. e GIBELLINI, R (org), Deus a Filosofia do Século XX, Loyola, p. 452).

2. Já meu filósofo preferido, que vai se tornando um desalmado a cada dia que passa, dizia exatamente isso, isto é, para as plebes, para mim, Cristianismo é religião de escravos, e, para as classes dominantes, tem um lado bom e um ruim - bom, aquele já apontado por Marx, nesse caso, como mau: é entorpecente de massas, e dá a cada um a dose diária e necessária de morfina; mau, tem o pendão de despertar a misericórdia, e, as elites, se se deixam intoxicar por esse veneno, a civilizalção entra em colapso.

3. Simone Weil confessa-se escrava. Mas nem tanto. De modo curiosamente próximo à minha própria experiência, considera as doutrinas farrapos humanos, inúteis, imprestáveis, e abre-se para a mística: uma "escrava" com liberdades filosóficas e teológicas... Eu deixei-me batizar quando o laço do passarinheiro armou-se sob meus pés; ela, antes de morrer, depois de uma vida de mística e anti-dogmatismo. Nisso, muita diferença... Mas os dois olham com toda a desconfiança do mundo, e ainda mais, para as catequeses de cabresto, que fazem de Deus, para Simone, um "objeto" e, a meu ver, uma naftalidade de espantar baratas...








OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Anônimo disse...

Qual o sentido da evangelização, esta tomada no sentido mais popularmente conhecido, que se identifica como a razão de ser de qualquer igreja cristã, antes a protestante e a evangélica, mas depois também a católica tentando recuperar espaço, a cuja prática é levado todo recém-convertido, sobretudo no neopentecostalismo, como sinal de conversão verdadeira e amor pelas almas, quando se constata esse seu aspecto "cabrestístico"? Passa-se a congregar em uma igreja, sabe-se da relatividade das doutrinas ali apresentadas como dogmas divinamente revelados, mas se é instado a "falar de Jesus" a quem se encontre pelo caminho, mas se tem a impressão - quase certeza - de que se está tentando encabrestar esse com quem se encontrou. O que fazer no dia-a-dia como cristão protestante/evangélico/crente (que já não sabemos como nos qualificarmos)?

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