sábado, 11 de dezembro de 2010

(2010/627) E Friedmann morreu aos 37 anos de idade...


1. Até que, por meio de observação física, Edwin Hubble demonstrasse que o Universo estava se expandindo, Albert Einstein insistira numa "constante cosmológica" que fazia do Universo uma grandeza estática. Ser o Universo isso que Einstein desejava que fosse, implicava na manutenção dos princípios básicos da fé religiosa que o físico teórico alimentava. Hubble obrigaria Einstein a rever sua posição, e, como resultado, a aceitar a evidência da expansão do Universo.

2. Antes, todavia, da vitória pública de Hubble, contra a qual Einstein nada podia, senão capitular, já em 1922, o matémático e físico russo, Alexander Friedmann, dedicara-se a estudar os trabalhos de Einstein. De imediato teria se dado conta de que a "constante cosmológica" constituía um elemento estranho, imposto de fora para dentro, e não intrínseco à própria teoria cosmológica, de modo que a subtraiu e recalculou todo o trabalho do físico, "convencido de que Einstein havia cometido um erro".

3. Numa primeira tentativa de informar-lhe sobre seu trabalho de revisão, enviou-o a Einstein, que "dispensou-os". Numa segunda ocasião, tentou aproximar-se pessoalmente de Einstein, "mas esse, no auge de sua celebridade, não dispunha de tempo para receber todos os que o procuravam".

4. Então, em 1929, Hubble demonstra, na prática, aquilo que Friedmann revelara, na teoria matemática. Einstein estava equivocado quanto à e estabilidade do Universo, e foi obrigado a rever sua própria teoria. Mas, para Friedman, já era tarde. Quatro anos antes de Hubble ter-lhe dado a vitória sobre o campeão, em 1925, três anos depois de seu trabalho de recálculo das contas de Einstein, Friedmann morreu, aos 37 anos de idade.

5. Eu fico imaginando a possível tristeza de Friedmann. Chegou diante do deus da fisica, e lhe disse que estava errado. Mas era um deus contra um homem, e, diante dos homens, os deuses estão sempre certos. A ironia é que Friedmann estava (mais) certo (do que Einstein), e nós sabemos disso agora. Mas ele, não. Nem jamais virá a saber.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

(para a fonte, cf. Alexandre Cherman, Cosmo-o-quê? Uma introdução à Cosmologia. Rio de Janeiro: Fundação Planetário, 2000).

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