1. Pitágoras encontrou a música nas estrelas. Com seus olhos incrédulos, quero dizer, tomados de inacreditável estupefação, com sua mão impudica, alquímica e astrológica, tocou os segredos de Deus, os que ele guardara lá em cima, na quinta de sua casa de praia. Não fora Pitágoras fazer contas, medir, desmedir, dividir, desdividir, sobrepor, traçar, recortar, tangenciar, trigonometrizar, não teríamos descoberto as sete notas, os sete planetas, as sete cores, os sete dias... os sete pecados...
2. Eu não sei por que Deus escondeu a música lá e cima. Aqui embaixo, deixou apenas o vento, a sussurrar nervoso entre as penhas e entre as árvores, dentro dos ouvidos humanos, nas cavernas hibernadas de ursos selvagens e guano de quirópteros. Os pássaros, é verdade, aprenderam o canto - antes de nós, são os primeiros cantores da Natureza. Talvez até antes tenham cantado as cigarras, uma das quais cantou, ontem, à minha janela de primavera, à custa de arrebentarem a casca... Os pássaros cantaram e nós também, mas a música esteve o tempo todo eascondida lá em cima...
3. Foi no século XX, todavia, que a música, finalmente, encontrou seu lugar entre os homens - as trilhas sonoras. Oh, sim, os séculos de ouro das camposições clássicas, dos gênios da música! Sim, belíssimos anos e compositores. Mas, cá entre nós, meus amigos, o que há de se comparar à trilha sonora dos filmes? O quê? Já imaginaram a vida da gente com trilha sonora? Eu já, a todo instante. Lamento profundamente que nos seja negada essa beleza, e que a tenhamos que criar para nós, mas, ainda assim, tão artificialmente. Se ao menos vivêsemos sob trilhas sonoras! O beijo, o amor, os momentos de tristeza, a alegria transbordante, as orações - e, claro, todas as intimidades... Não seria uma coisa linda? Por que terá nos privado Deus disso?
4. Só há uma vingança humana, nesse caso. Os homens fizeram a bomba mais poderosa do planeta, e a explodiram. Deus espirra, e eis explodidas tantas dessas bombas quantos são os anos de vida do Universo! Os homens escrevem toneladas de livros, Deus assopra e todas as palavras são levadas pelo vendo. Mas o que Deus não fez o homem fez - criou para si um mundo mágico - o que Deus também fez, mas sem música. O mundo mágico que os homens criaram para si é cheio de música, orquestras magníficas que tocam ao sabor dos passos dos heróis, dos vilões, do amor e da guerra. A música de cinema é a vingança do homem. Ou o seu ciúme - ciúme tão profundo que não duvidaria de Deus se sentir constrangido...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Eu não sei por que Deus escondeu a música lá e cima. Aqui embaixo, deixou apenas o vento, a sussurrar nervoso entre as penhas e entre as árvores, dentro dos ouvidos humanos, nas cavernas hibernadas de ursos selvagens e guano de quirópteros. Os pássaros, é verdade, aprenderam o canto - antes de nós, são os primeiros cantores da Natureza. Talvez até antes tenham cantado as cigarras, uma das quais cantou, ontem, à minha janela de primavera, à custa de arrebentarem a casca... Os pássaros cantaram e nós também, mas a música esteve o tempo todo eascondida lá em cima...
3. Foi no século XX, todavia, que a música, finalmente, encontrou seu lugar entre os homens - as trilhas sonoras. Oh, sim, os séculos de ouro das camposições clássicas, dos gênios da música! Sim, belíssimos anos e compositores. Mas, cá entre nós, meus amigos, o que há de se comparar à trilha sonora dos filmes? O quê? Já imaginaram a vida da gente com trilha sonora? Eu já, a todo instante. Lamento profundamente que nos seja negada essa beleza, e que a tenhamos que criar para nós, mas, ainda assim, tão artificialmente. Se ao menos vivêsemos sob trilhas sonoras! O beijo, o amor, os momentos de tristeza, a alegria transbordante, as orações - e, claro, todas as intimidades... Não seria uma coisa linda? Por que terá nos privado Deus disso?
4. Só há uma vingança humana, nesse caso. Os homens fizeram a bomba mais poderosa do planeta, e a explodiram. Deus espirra, e eis explodidas tantas dessas bombas quantos são os anos de vida do Universo! Os homens escrevem toneladas de livros, Deus assopra e todas as palavras são levadas pelo vendo. Mas o que Deus não fez o homem fez - criou para si um mundo mágico - o que Deus também fez, mas sem música. O mundo mágico que os homens criaram para si é cheio de música, orquestras magníficas que tocam ao sabor dos passos dos heróis, dos vilões, do amor e da guerra. A música de cinema é a vingança do homem. Ou o seu ciúme - ciúme tão profundo que não duvidaria de Deus se sentir constrangido...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
6 comentários:
Quando eu comecei a ler esse post veio na minha mente o seguinte pensamento, absolutamente nerd, os pulsares emitem luz ou ondas de rádio a uma determinada frequência, se pensarmos na frequência como um tom, (inaudível para nós, mas quem o sabe pra Deus....) e dado que pulsares se extinguem ou se unem ou ainda podem funcionar em conjunto... temos ums sinfonia ou uma barulheira sem fim no meio das estrelas.... :-)
Nerd, nada, muito bem retrucado... Há um conto do Isaac Azimov sobre um povo de determinado planeta que tinha a habilidade de ver espectros de luz inacessíveis ao homem. No fim da história, o mocinho quer porque quer ver, faz uma operação e vê - mas nunca mais poderia ver de novo aquilo, só aquela vez, e isso o torna infeliz eternamente, orque soube o quão pobre é ser humano. Essa "sinfonia hiper e hiposônica de Deus é algo bastante diletante... Fez e guardou pra ele. Mas, povo metido em tudo que somos, descobrimos até que ele fez música que só ele ouve - mas nós metemos o ouvido na porta! Hahahaha...
:-D Eu me amarro no Isaac Azimov... Esse seu comentário aguça a minha normal curiosidade humana (dom de Deus!), pq desde que pensei na sinfonia nas estrelas , fico me perguntando quão sublime ela deve ser... isso me joga também no dilema incapacidade x capacidade humana Aiai, taí mais um alimento pra poesia e crise diária...
Haverá som lá, se lá não tem meio de propagação? Será que até niso os ouvidos de Deus são especiais - ouve o inaudível?
Foi o que escrevi antes, num é o som que conhecemos, a energia vai em forma de luz e ondas de rádio e não no deslocamento de matéria como é com o som que a gente escuta... que aliás é uma interpretação cerebral tb de um tipo de transmissão de energia.
Mas pulsares tem uma freqüência de pulsação (por isso o nome)... foi na junção dessas frequencias que pensei a música das estrelas. hehehe Pura poesia. Ou não é parte dela dar cor ao som, gosto às cores ou som às deferentes luzes?
;-) Quem sou eu pra saber como são os ouvidos de Deus? Só sei dos nossos limitados....
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