terça-feira, 25 de maio de 2010

(2010/392) Ivoni me manda e-mail


1. Ivoni me manda e-mail, em resposta ao meu post a ela dedicado. Não se trata de uma "reação", o que eu mil vezes preferiria, mas apenas uma provocação - ela me pergunta, em tom retórico, se, de fato, pode-se falar em "liberdade", quando o assunto é "mulheres", mesmo no século XX, mesmo no Ocidente, que "louvei".

2. Bem, gata arisca: sim e não. Não, porque não está terminada a jornada, se um dia ela acabará. Sim, porque não se pode mais comparar a situação da mulher, se o cenário for, de um lado, o século XX - imagine-se a pílula nos séculos não-republicanos! (falta o aborto?) -, de um lado, e, de outro, os outros séculos. Mas eu adverti: será lento o processo, como até aqui tem sido. Bem, pelo menos lento do ponto de vista dessa mulher aqui, que me fita os olhos da cara, mas em termos da longa duração, puxa vida!, que rápido isso foi!

3. Mas eu disse a Ivoni, gata que ensaia sair da caixa mais depressa do que outras gatas, que não há garantias. Trata-se de História. Aí, nada, absolutamente nada é certo e garantido. Abriu-se uma janela, que permite a libertação de mulheres do jogo cultural e político entre homens e religião cristã (além de outras, naturalmente. Ela pode escancarar-se, cada vez mais, e permitir aquilo que Ivoni entenderia, plenamente, como plena liberdade de mulheres. Mas a janela pode fechar-se, também. Ora, quem imaginaria escravidão com chancela de cristãos?, da Igreja? Se me contam, descreio... e, contudo, seria um tonto, descrendo. Assim, é possível que tudo volte à estaca zero, e que a liberdade de mulheres seja tolhida, refreada, interrompida.

4. A questão é: isso dependeria da ressurreição de Deus? Vejam que falo em termos de metáfora histórica, uma referência cruzada, de um lado, a Nietzsche e sua leitura sócio-política da Europa ocidental do XIX - "Deus está morto" - e, de outro lado, uma referência ao modelo iluminista/revolucionário - a República "laica". Um Estado laico permitiu o começo da utopia de mulheres, agora, em sentido amplo e "legal", já que mulheres haviam ensaiado liberdade durante todo esse enorme tempo de clausura, a despeito dos homens, a despeito de Deus, mas, por isso, pagaram com as carnes - literalmente.

5. A questão é: trata-se de uma conditio sine qua non a morte de Deus? A situação da mulher, em face do homem, é tal, em tal estado de perversão, que, se têm estes um Deus a quem recorrer, e recorrer de modo programaticamente político-retórico, montam, de novo, sobre elas? A salvação das mulheres é a separação entre Igreja (Religião) e Estado? Deus, para ela, somente como mito estético? Que maldade será essa, nos termos da qual, para serem livres, deverão morrer de saudades de Deus? Ou, alternativamente, aninhá-lo ao colo, como a filhotes de labrador...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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