segunda-feira, 10 de maio de 2010

(2010/375) Rede da alma


1 A aparição virtual de Jimmy a partir das terras francesas trouxe de volta, sob outra perspectiva, a dimensão do vazio e do niilismo existencial. Osvaldo, mesmo enfermo, reagiu com sua pena perspicaz. É ele, sem dúvida, a alma mater e o animus rector deste blog. Por isso, como coadjuvantes, estimamos sua pronta recuperação.

2 Um citado do texto de Osvaldo me chamou especialmente a atenção. “A alma humana tem tanta saudade da verdade divina que, quando tem de encarar a condição humana da verdade humana, desespera. A auto-piedade toma conta do homem, choroso que fica, porque perdeu... o que ele perdeu mesmo? Ah, sim, uma ilusão política...” Acho é mais que isso. Obviamente entendemos que o mito é instaurador e policiador das consciências; por isso falamos em “violência do mito”. Concordo. Mas não é só isso. Há uma cumplicidade de sujeitos dentro de uma malha simbólica tecida coercitivamente e reproduzida coercitiva ou voluntariamente. De uma ou de outra forma, a “alma” se acostuma ao jeito da tessitura. Quando a certeza da verdade do mito se vai não perdemos somente uma “ilusão política”; perdemos uma determinada construção simbólica, existencial. Com sua perda pendemos sobre o vazio ou ficamos, talvez saudosos, ainda a observar o “eclipse de Deus”, pelo menos, por algum tempo, até que, talvez, outras “verdades”, ainda que mais efêmeras e fugazes, nos sustentem. A síndrome do sacerdócio está impregnada, marcado nas nossas almas, e reproduzimos seus sintomas, ainda que involuntariamente.

3 Miseravelmente não vemos a “terra nua”. Sempre a vestimos com alguma vestidura do nosso guarda roupa lingüístico-cultural. E por isso podemos dar vários nomes a esta “terra”. Porque somos os sujeitos da reflexão e do discurso. Ainda que a terra lá esteja, nua – aos nossos sentidos -, ela está enamorada, num cio cósmico, num ciclo de vida de longuíssima duração.

4 As perguntas, e as respostas, “fundamentais”, emergem em meio a rede de questionamentos que a pergunta pelo Dasein suscita. Não fundamentais em si, como nada é, tornam-se fundamentais pela intenção da consciência.


HAROLDO REIMER

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