1. Há uma estética do sombrio, que se traduz numa erótica do trágico, flagrada na mística do sofrimento. Assumir-se que se flagra o Nada, o Vazio, a Tragédia, é, quantas vezes?, uma forma de purgação, de purificação, de beatitude. A hipérbole da modernidade pode ser contornada pela indisfarçável encenação do drama anímico, a síndrome de Prometeu, dessa vez não mais na penha, mas no divã da retórica poético-trágica.
2. O Nada permanece como Alguém. Fosse Nada, nada seria. Mas é. E o é de um modo tão sagrado, que ainda é o mesmo Deus de sempre, mas, agora, transmutado pela visão sublime do iniciado. A solidão sacramental que se experimenta é, ainda, um empréstimo das simbologias rituais da fé. Ela até cuida ter-se perdido, ter-se desviado para o deserto, diz que se extraviou, mas pode ser flagrada em transe e... amnésia.
3. É pura estética, porque é beleza subjetiva - a luz contra a qual se debate a mariposa... No fundo, é a mística da participação no sagrado: o místico lança-se contra o Nada, faz-se-lhe na e da mesma altura, e sofre não mais a dor humana, mas, já, o próprio pathos divino. Não é a solidão de homem. É a solidão de Deus.
4. Quando o mito cai, quando o véu é soprado de sobre o altar, revela-se a terra nua. E a terra nua é apenas isso, terra nua. O Nada, o Vazio, isso não é a terra nua. Isso ainda é Mito e Gozo, satisfações lúdicas da alma viciada. Porque olhar para a terra nua e dar-se de cara com ela é fazer cessarem os antigos mitos, é encarar-se a trivialidade da vida animal/humana, é recusar-se a sensação divina de fazerem-se as perguntas fundamentais. Não há perguntas fundamentais. Nem respostas. E, quando as há, é apenas na cabeça saudosa que ela voeja, essa cabeça divina demais para agüentar o caráter tão prosaico de que se reveste, afinal, a existência humana.
5. Não, não, nem o prazer do trágico se permite a quem de fato cruza o umbral moderno. Nem isso ele terá. É um caso clássico de síndrome de abstinência. Mas passa.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. O Nada permanece como Alguém. Fosse Nada, nada seria. Mas é. E o é de um modo tão sagrado, que ainda é o mesmo Deus de sempre, mas, agora, transmutado pela visão sublime do iniciado. A solidão sacramental que se experimenta é, ainda, um empréstimo das simbologias rituais da fé. Ela até cuida ter-se perdido, ter-se desviado para o deserto, diz que se extraviou, mas pode ser flagrada em transe e... amnésia.
3. É pura estética, porque é beleza subjetiva - a luz contra a qual se debate a mariposa... No fundo, é a mística da participação no sagrado: o místico lança-se contra o Nada, faz-se-lhe na e da mesma altura, e sofre não mais a dor humana, mas, já, o próprio pathos divino. Não é a solidão de homem. É a solidão de Deus.
4. Quando o mito cai, quando o véu é soprado de sobre o altar, revela-se a terra nua. E a terra nua é apenas isso, terra nua. O Nada, o Vazio, isso não é a terra nua. Isso ainda é Mito e Gozo, satisfações lúdicas da alma viciada. Porque olhar para a terra nua e dar-se de cara com ela é fazer cessarem os antigos mitos, é encarar-se a trivialidade da vida animal/humana, é recusar-se a sensação divina de fazerem-se as perguntas fundamentais. Não há perguntas fundamentais. Nem respostas. E, quando as há, é apenas na cabeça saudosa que ela voeja, essa cabeça divina demais para agüentar o caráter tão prosaico de que se reveste, afinal, a existência humana.
5. Não, não, nem o prazer do trágico se permite a quem de fato cruza o umbral moderno. Nem isso ele terá. É um caso clássico de síndrome de abstinência. Mas passa.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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