terça-feira, 4 de maio de 2010

(2010/366) Filhos do tempo


1. Para o bem e para o mal - se eu refletisse como um judeu/israelita do Antigo Testamento, teria escrito: "para o que é bom, para o que é ruim" -, somos filhos do tempo. Do nosso tempo. Nossos gostos são daqui. Nossos valores. Nossos conceitos. Nossas verdades. Podem até ser antigos, mas terão de atravessar o Atlântico da distância para nos atingirem o peito, e nos tomarem por cativos.

2. Nosso mundo é uma pequena bolha econômico-financeira, cultural, espiritual, moral, social. Somos como que grilos dentro de um pote. Pouco mais do que isso. Consideramos-nos na mais alta conta, mas, a rigor, lidamos com o que temos à mão - e talvez essa seja a nossa única grandeza. O castor constrói diques - nós, cultura.

3. Se você nasce pobre e humilde, seus valores tenderão a ser os dessa classe. Se, ao contrário, nasce um Onassis, ah, o que é que você não pode? Lá em cima não há valores, não há limites, não há regras - salvo aquelas naturais, mas as culturais, são todas abolidas, como o são na alta política, na alta administração, nos altos negócios.

4. São muito, muito frágeis as "regras". Parecem inquebrantáveis enquanto estamos em seu centro de operações - nosso mundo de origem. Saia daí, para cima ou para baixo, e verá como tudo não passa de um grande teatro, mas tão bem encenado, que cremos naturais regras que não passam de imprintings culturais.

5. Ser filho do tempo. É a maldição do ser humano. Alguns se dão bem com isso. Alguns têm, ao contrário, a pouca sorte de serem filhos de um tempo bêbado e violento.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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