1. Mesmo não contribuindo com regularidade e muito menos com a sofreguidão do colega e amigo Osvaldo, a questão da classificação da Teologia continua me ocupando. Um dos últimos momentos de debate forte foi quando e após o Parecer 118. Aí houve sentimentos distintos. Havia e há os que entenderam que o parecer, com suas exigências de inclusão de “eixos” típicos das Ciências Humanas na matriz curricular dos cursos de Teologia no Brasil, pretendia transformar a Teologia em Ciência(s) da religião. Outros, entre os quais me insiro, viram a necessidade de tais eixos para pelo menos conformar ou forçar a dialogicidade efetiva da Teologia com as demais ciências humanas de sua chave classificatória. Isso, claro, para dar conta da condição de cidadania acadêmica da própria Teologia.
2. A julgar por algumas reações, em ambientes distintos, parece ser assim que a dialogicidade efetiva romperia com a conditio própria da Teologia. E isso é o preocupante.
3. Osvaldo, com muito fôlego, tem proposto uma classificação tripartite da Teologia: metafísica, metafórica e heurística. A primeira é a tradicional, de corte vétero-medieval. A segunda respira as energias das ciências da linguagem, tendo, com novo fôlego, dedicado o post 2010/351 “Metáfora e sacramento”. A isso ainda quero reagir com mais vagar. Por ora, preocupa-me a pergunta: qual é a distinção efetiva entre o primeiro tipo e o segundo? Ambas tem destino ao manejo da arena da política, que é o espaço efetivo da Teologia e aquilo que lhe corresponde em outras culturas, a saber a ordem mitológica. A pergunta que me fica é: será que a diferença entre ambas não reside somente na consciência do sujeito operante em relação ao seu objeto?
4. Mas, e a Teologia heurística? Todo o conjunto daquilo que costumamos entender sob “Teologia” (claro que num viés cristão-ocidental) é uma importante rede simbólica na tessitura das relações sociais durante muitos séculos. Vida e morte, guerra e paz, esperança e desesperança, crítica e anti-crítica. Tudo isso se decidiu em relação a tais conteúdos ou sobre seus fundamentos. Reconheço a importância dessa tradição. Mas, o que se descobriu mesmo?
5. Na Teologia acadêmica houve algumas rupturas sintomáticas. No final do século XIX, a exegese histórico-crítica se distancia do “método teológico”, passando a assumir cada vez mais um interesse “histórico” e crescentemente “fenomenológico” sobre o vir a ser e o ser dos textos sagrados (em especial: bíblicos). A própria “História da igreja” passou a se pautar cada vez em consonância com as exigências dos métodos historiográficos, inicialmente da “escola de Berlim” e depois com as demais influências rumo a uma “história total” (mentalidades, social, etc.). A chamada “teologia prática” se utilizou desde sempre de aspectos das ciências cognitivas para melhor operacionalizar os conteúdos da fé em confronto com o sujeito crente ou mesmo o descrente. O que restou foi o “núcleo” da Teologia: a “sistemática” ou a “dogmática”. Aí se está efetivamente diante de Teologia. E esta pretende que seja cristã.
6. São admiráveis os esforços para fazer dialogar os conteúdos da fé com os sistemas cognitivos gerais. Cada vez mais um manual de teologia sistemática tem de ser mais extenso para poder operacionalizar em seu interior o conjunto e as interrelações entre os mais diversos âmbitos e facetas dos conhecimentos sobre as “nervuras do real”, o mundo, a realidade, o cosmo. Mas aí é sistema. Como na filosofia. O modus operandi é fundamentalmente o da filosofia grega, com todas as suas nuanças de abstratividade. Na base de tudo permanecem fundamentalmente dois elementos: o sujeito da fé e as “bases escriturísticas”. Mas se as últimas, diga-se a Bíblia, também são expressão da experiência de fé transformada em doutrina, resta somente o sujeito da fé, aquele que passa pela experiência do sagrado. E este sempre haverá de ser plural, por que plurais são as próprias experiências, em concordância com a diversidade com que cada sujeito hermenêutico se põe a se compreender no seu dasein e na sua forma de expressão e relação com o seu entorno. Qual é, então, a base para a descoberta, para a heurística? Não será somente a descoberta da própria experiência?
7. Mas aí, o que se teria descoberto?
2. A julgar por algumas reações, em ambientes distintos, parece ser assim que a dialogicidade efetiva romperia com a conditio própria da Teologia. E isso é o preocupante.
3. Osvaldo, com muito fôlego, tem proposto uma classificação tripartite da Teologia: metafísica, metafórica e heurística. A primeira é a tradicional, de corte vétero-medieval. A segunda respira as energias das ciências da linguagem, tendo, com novo fôlego, dedicado o post 2010/351 “Metáfora e sacramento”. A isso ainda quero reagir com mais vagar. Por ora, preocupa-me a pergunta: qual é a distinção efetiva entre o primeiro tipo e o segundo? Ambas tem destino ao manejo da arena da política, que é o espaço efetivo da Teologia e aquilo que lhe corresponde em outras culturas, a saber a ordem mitológica. A pergunta que me fica é: será que a diferença entre ambas não reside somente na consciência do sujeito operante em relação ao seu objeto?
4. Mas, e a Teologia heurística? Todo o conjunto daquilo que costumamos entender sob “Teologia” (claro que num viés cristão-ocidental) é uma importante rede simbólica na tessitura das relações sociais durante muitos séculos. Vida e morte, guerra e paz, esperança e desesperança, crítica e anti-crítica. Tudo isso se decidiu em relação a tais conteúdos ou sobre seus fundamentos. Reconheço a importância dessa tradição. Mas, o que se descobriu mesmo?
5. Na Teologia acadêmica houve algumas rupturas sintomáticas. No final do século XIX, a exegese histórico-crítica se distancia do “método teológico”, passando a assumir cada vez mais um interesse “histórico” e crescentemente “fenomenológico” sobre o vir a ser e o ser dos textos sagrados (em especial: bíblicos). A própria “História da igreja” passou a se pautar cada vez em consonância com as exigências dos métodos historiográficos, inicialmente da “escola de Berlim” e depois com as demais influências rumo a uma “história total” (mentalidades, social, etc.). A chamada “teologia prática” se utilizou desde sempre de aspectos das ciências cognitivas para melhor operacionalizar os conteúdos da fé em confronto com o sujeito crente ou mesmo o descrente. O que restou foi o “núcleo” da Teologia: a “sistemática” ou a “dogmática”. Aí se está efetivamente diante de Teologia. E esta pretende que seja cristã.
6. São admiráveis os esforços para fazer dialogar os conteúdos da fé com os sistemas cognitivos gerais. Cada vez mais um manual de teologia sistemática tem de ser mais extenso para poder operacionalizar em seu interior o conjunto e as interrelações entre os mais diversos âmbitos e facetas dos conhecimentos sobre as “nervuras do real”, o mundo, a realidade, o cosmo. Mas aí é sistema. Como na filosofia. O modus operandi é fundamentalmente o da filosofia grega, com todas as suas nuanças de abstratividade. Na base de tudo permanecem fundamentalmente dois elementos: o sujeito da fé e as “bases escriturísticas”. Mas se as últimas, diga-se a Bíblia, também são expressão da experiência de fé transformada em doutrina, resta somente o sujeito da fé, aquele que passa pela experiência do sagrado. E este sempre haverá de ser plural, por que plurais são as próprias experiências, em concordância com a diversidade com que cada sujeito hermenêutico se põe a se compreender no seu dasein e na sua forma de expressão e relação com o seu entorno. Qual é, então, a base para a descoberta, para a heurística? Não será somente a descoberta da própria experiência?
7. Mas aí, o que se teria descoberto?
HAROLDO REIMER
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