quinta-feira, 24 de setembro de 2009

(2009/486) Questões teológicas muito profundas


1. Ainda aguardo a "autorização" para que possa publicar, aqui, um "intenso" debate que temos travado, Cassia, Eduardo, Alessandro e eu, todos, estudantes e professores do Curso de Graduação em Teologia em Nova Iguaçu. Temos discutido um tema específico - as "modalidades" discerníveis nas diversas teologias históricas contemporâneas - a partir da base disciplinar Teologia Brasileira.

2. Cassia provocou. Eduardo reagiu. Eu me meti - mandavam e-mail para mim e para o Alessandro... E, finalmente, Alessando escreveu. Uma interessante troca de e-mails comunitários. Se eles autorizarem - já pedi duas vezes, e nada! -, publicarei.

3. Eduardo acabou de escreveu uma réplica à Cassia. Trata de questões sempre sérias. No fundo, o problema é conseguir dar conta de uma atitude fundamental - a relação consciente diante da "tradição", proposta como fé.

4. Sem um sistema teórico de aproximação, isto é, sem que possamos dizer que uma coisa é isso, outra coisa é aquilo, nenhum diálogo é possível. Você poderia considerar que uma obra de arte e uma equação de física quântica sejam a mesma coisa. Bem, são, se você pensa como critéro "produtos humanos". Sim, são, ambos, a obra de arte e a equação quântica, obras humanas - uma escultura e uma fórmula matemática. Mas são coisas completamente diferentes, se o critério é, agora, a pragmática - um, é estético - a obra de arte - o outro, heurístico. Há quem não goste de classificações. Mas elas têm o valor heurístico da nudez: não há biombos, quando se usam classificações, distinções. A crítica é a única garantia democrática do conhcimento.

5. Nesse caso, é curioso perceber como se cogita da dissolução da metafísica, mas, sempre, falando-se em "Deus". Ora, se houver uma mística cética, mesmo, que substitua uma ontologia metafísica ou uma metáfora comunitário-traditiva, ela, a mística, se cética, só pode ser crítica (se não, transforma-se numa metafísica plural bastante folclórica - e, se folclórica...). Ora, ela imediatamente está informada de que a idéia "Deus" é uma idéia histórica. Se há Mistério (o que, em si, já é uma dúvida), não se pode saltar, daí, da possibilidade de Mistério, diretamente, para a possibilidade de "Deus". Pode ser que o mistério seja Deus, Deusa, Deuses, Deusas. Isso que eventualmente seja pode ser energia, "mana", pode ser não-pessoal, e pode ser "pessoal". Pode ser bom, mau, bom-mau (como o Yahweh original, antes da racionalização pós-persa). Pode ser deísmo, teísmo, panteísmo, politeísmo. Pode ser tuido que qualquer religião já inventou, do budismo quase-ateu até o politeísmo hindu de 300.000.000 de deuses, passando pela preseunção monoteísta... Até a metáfora pode ser presunçosa...

6. Logo, a verdadeira crítica metafísico-ontológica, a meu juízo (estou errado? Onde estão os argumentos contrários?), corrói a representação da tradição. Se ainda me apego à representação da tradição, há alguma razão para isso: estética (se pessoal), política (se pastoral - o que não sgnifica, necessariamente, manipulação, mas não é, igualmente, desalienação). A rigor - não sabemos coisa alguma.

7. Por outro lado, reconhecer a "persistência" do Mistério não é recuar para um retorno à metafísica - é perguntar o que é essa "persistência". Perguntar pelo Mistério não produz respostas, porque as respostas que inventamos - Tologias - foram, todas, invenções culturais, seja a ontologia, seja a metáfora, seja a fenomenologia. Agora: a questão é: que tipo de Teologia pode, realmente, sem disfarces, sem "folhas de parreira" (apud Cassia!), fazer a pergunta pelo que é essa persistência? Para mim, apenas as Ciências - e, assim, apenas uma Teologia como Ciência...

8. A velha e boa ontologia pode dar respostas? Pode. Tem dado, em todas as religiões, há mais de dez mil anos. Em termos "istraelitas/judaicos", há uns dois e meio, três. Em termos cristãos, dois mil anos. É ontologia. Tem seu direito. Mas, diante do crivo das Ciências Humanas, é o que é. Mito que desconhece sua condição de mito... Um auno onte me disse: Deus não é mito. Não se discute uma coisa assim.

9. A metáfora, igualmente, não quer investigar. Não quer fazer a pergunta. Quer apenas o direito de poder dizer o que quiser, independentemente de Roma e Witenberg - a questão é política, não heurística. Não é à toa que permanece na tradição, e terá, na tradição, as respostas... Se Galileu fosse por aí, arrumaria um jeito de deixar o sol girando em torno da terra, desde que isso fizesse bem para a comunidade... a seu juízo... Mas Galileu nao poderia ser Galileu, fosse metafórico...

10. Só o espírito crítico-investigativo (com todos os seus defeitos) pode fazer a pergunta. Se pode respondê-la? Penso que sim. Já li Vattimo - tudo dele em português. Não faz perguntas heurísticas. Foge delas. Faz declarações políticas. É legítima a política, mas não para medir a distância entre nós e a Lua... Já Morin, será que foi lido? Eu o li. O caminho para as respostas, até para o modelo de pergunta, está ali, porque ele reúne dezenas de especialistas em dezenas de especialidades. É uma espécie de congregação das teorias científicas de topo, críticas, claro, todas. Não é um solipsismo moriniano, mas a congregação de esforços de um planeta. Morin é multidão...

11. Não sei se há Mistéro algum. Muito menos, se há, o que tem lá, o que ele é, o que eles são, o lá e o Mistério. Sei que minha mente lida com uma noção persistente de Mistério. É essa noção que tem de ser investigada, esse produto da mente, da consciência. Uma teologia fenomenológica lida com isso. Não com o "nome" tranqüilizador "Deus", nem com o Ser. Cada qual faça o que desejar fazer. Cada qual invista no que julgar legítimo investir. Mas quem compra ações, compra ações. Quem compra ouro, ouro. E que guarda no colchão, no colchão. Somos o que somos, independentemente de desgostarmos de que um nome seja dado a isso que somos.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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