sexta-feira, 21 de agosto de 2009

(2009/439) Auto-determinação e aristocracia


1. A origem da idéia de auto-determinação, em Nietzsche, advém - é minha hipótese - de sua condição aristocrática. A um "nobre" não convém curvar-se. De onde quer que a idéia de autonomia desapareça, a auto-imagem do homem e da mulher imadiatamente aceitará a perda do caráter "aristocrático" de seu ser. Seja sob a Linguagem, seja sob a Tradição, seja sob Deus - essa idéia sacerdotal, e, enquanto tal, maligna -, quando o homem e a mulher se curvam, automaticamente aceitam a sua condição de plebe, de ralé, de súditos. Uma vez que o discurso teológico assim os desenha, uma vez que o teólogo assim os gosta de desenhar, porque o teólogo é o herdeiro do sacerdote, assim se sentem bem, porque assim sentem que Deus os quer, curvados, de cerviz flexível (parece que os camponeses israelitas eram mais nobres do que o Yahweh do Templo quisera, povo de dura cerviz, povo para a espada). É por isso que o primeiro inimigo não é o sacerdote, esse embusteiro - é a idéia sacerdotal de Deus, a idéia teológica de Deus. Morta ela, eles debandam, atrás do próximo incauto... Mas a tarefa tornou-se, agora, mais difícil, porque, enquanto o embusteiro está diante de mim, a sua arma, o seu ovo de víbora, ele o havia chocado em minha própria cabeça. E dói arrancá-lo de lá...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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