domingo, 3 de maio de 2009

(2009/248) Da extra-lúcida pós-modernidade


1. Quando eu finco um pé na terra, à frente, envieso e finco o outro pé, mais atrás, como quem adota uma pose de boxe. Quando eu levo os punhos fechados à altura do nariz e do queixo, fechando a guarda, e olho nos olhos da pós-modernidade, eu quero com isso dizer que pressinto que a economia política que a envolve tem conseqüências gravíssimas - a principal delas: a dissolvição da História. E disso quero defender-me.

2. Essa extra-lúcida pós-modernidade, ressurreição de Platão em kevlar, parece responder à mesma função estratégica que Carlo Ginzburg denunciou quanto ao Estruturalismo - a dissolvição dos fatos, e, com eles, das causas, das ações, dos indícios, das intencionalidades. Se não há fatos, se não há causalidade, se não há objetividade, qualquer leitura da realidade - mas que realidade? - é politicamente adequada. Há um cinismo potencial no olhar pós-moderno... Há um sarcasmo intrínseco.

3. Ilustre-se o que quero dizer com a leitura do interessante artigo de Robert Fisk, publicado hoje no The Independent, e que aqui se acessa na tradução Fisk, sobre o Iraque: os chefões sonegarão a verdade, do blog Viomundo. Trata-se de um artigo a respeito de uma carta "anônima" que procura justificar o envio das tropas inglesas para o Iraque. As tropas começam a retornar, e, com o retorno, começa a operação apologia, eivada de mentiras e falsificações - o polvo da verdade de encomenda movimenta-se no fundo do abismo da política.

4. Bem, mentiras e falsificações em termos. Porque não há nem mentiras nem falsificações numa era pós-moderna, naturalmente, como nos pretendem fazer crer seus ideólogos. Todos, naturalmente, "brancos e de olhos azuis", como o diria e nos mesmos termos em que o disse o Presidente Lula.

5. Procurem discurso de pós-modernidade na África. Procurem-no nas favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Procurem-nos nas aviltantes moradias do sertão brasileiro. Procurem-nos entre os trabalhadores quase-escravos de Dubai. Procurem-no entre os milhões de refugiados e de imigrantes do mundo, sempre, naturalmente, fugindo da miséria, em direção ao coração da Europa. Procurem defesas de pós-modernidade entre os descendentes dos meso-americanos pré-colombianos, no Peru, no Equador, na Bolívia, na Colômbia, na Venezuela. Procurem a pós-modernidade entre aqueles que denunciam o governo de George W. Bush. Procurem-na entre os miseráveis da Ásia.

6. Onde ela está? No coração do Estados Unidos da América e da Europa, em centros de "reflexão" de ponta! São os gênios do Planeta! Não, eles não se fazem contar entre os cientistas cognitivos, que estão com a cara enfiada no cérebro, fazendo-o dialogar com o pensamento que emerge dele, tentando compreender um pelo outro, e vice-versa. Também nao estão na Química nem na Física, debruçadas sobre as "leis" da termo-dinâmica - com o que "acabaram" de descobrir a História fincada no coração da matéria! Onde esles estão? Em livros de cripto-política, travestidos de filosofia.

7. Quem gosta da onda? O capital. O poder. A política. O status quo. Mais ninguém.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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