2. Contra tudo - e contra todos -, ela, Susan Boyle, abre a boca. Ela canta. Espanta. Encanta. Sob aquela capa de imposibilidades, ela tem talento, e que talento! E ela vence. E ela convence.
3. Mas e se Susan Boyle não cantasse como canta? E se não tivesse na garganta um coro de rouxinóis, de uirapurus, de maviosos pássaros canoros? E se além da mulher que é, tivesse, ainda, a voz comum do comum das mulheres?
4. Mais - e se eu não tenho talento algum? E se eu não sou especial em nada. E se eu não canto, não danço, não toco instrumento algum, não faço nada de esteticamente relevante - como fico? E se eu não ganho nenhuma das competições de que participo? E se nem jogo de cartas eu ganho? E se não tenho beleza, nem posses, nem dom algum que se eleve a esse olimpo do talento - talento, capaz de fazer desaparecer, sob a hegemonia da mídia, todos os meus anti-estereótipos? E se eu sou apenas uma pessoa comum, comuníssima, medíocre, não branca, ou branca, mas pobre, nem de olhos coloridos, nem nigérrima, mas uma pessoa mestiça, de cabelo mestiço, de alma mestiça, sem nada que faça de mim alguma coisa relevantemente especial para o quer que seja, senão a teimosia de manter-me vivo, viva? Perdi, definitivamente, a última competição da vida?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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