sábado, 18 de abril de 2009

(2009/176) Sobre o "caso" da chibata nos trens cariocas


1. Semana passada, ia escrever sobre o caso das chibatadas que usuários de trens da Supervia levaram dos "seguranças" da empresa. Deixei passar a oportunidade, e, agora, não voltaria ao tema. Mas ele aparece na edição de hoje da Terra Maganize, e o leitor pode inteirar-se da discussão por meio do artigo de Ricardo Lauricella, que termina lembrando a Revolta das Chibatas, de 1910, episódio em que marinheiros, cansados de castigos à chibata, amotinaram-se.

2. É, de fato, o cúmulo do absurdo que "seguranças" de uma empresa concessionária pública, ou seja, concessão que o povo lhe concede, deite o chicote no lombo do concessor. É razão até para revolta - que não houve, nem haverá. No entanto, se é preciso que se chegue a isso - e nem a isso - para que se tome alguma providência em relação à absoluta falta de dignidade com que o povo é tratado nos serviços de transporte públicos das cidades brasileiras, então já perdemos o brio, se um dia o tivemos.

3. O Metrô da Cidade do Rio de Janeiro (o Estado não tem Metrô, só a "Cidade Maravilhosa"), por exemplo, ofende diariamente seus usuários. O Metrô fez o seguinte. Reformulou a posição das cadeiras do vagões, diminuindo seu número. Então, escreveu em cartazes essa quintessência da hipocrisia: aumentamos seu conforto interno! Está lá, para qualquer cidadão ler, e, para quem tem mais do que um neurônio e meio, é ofensa tão grave quanto chicote no couro. Planejar um jeito de entupir ainda mais os vagões é "aumentar o conforto". É a quintessência da hipocrisia do marquetingue... Dia desses, espremidos como sardinhas que estávamos, uma moça lá reclamou de alguma coisa, e o cavalheiro, gentilmente, disse que, se ela não quisesse ser quase currada ali, que fosse para o vagão das mulheres. Viva a vida moderna!

4. Nas empresas de ônibus, supra-sumo da voracidade capitalista "menor" (a maior vem de mais acima...), tentou-se acabar com a função de cobradores. Em Mesquita, você paga a passagem ao motorista - enquanto ele dirige! Agora, hão de voltar alguns dos antigos postos, mas com o interessantíssimo nome de "auxiliar de catraca", para, assim, perceber menor salário do que os antigos "cobradores". Raça infeliz essa dos empresários de ônibus, e dos políticos que os engordam.

5. Não há respeito nenhum à população. Nenhum. Da política, que deveria a isso prestara atenção, que esperar dela, se é financiada justamente por essa máquina, seja, certamente, por dentro, seja, não duvido, por fora? Tudo conta-se e computa-se por força da busca incessante da maxi-lucratividade e do próximo financiamento de campanha. O povo, eu, você, nós, somos, nada mais nada menos do que "peças" por meio das quais as administrações do capital e da política fazem suas contas, suas negociatas, e a gente vai levando, porque é assim que aprendemos que as coisas são, aleluia!, e perdemos a capacidade de, primeiro, imaginá-las da forma como gostaríamos que fossem, e, então, fazê-las tal e qual.

6. Não é apenas sumamente verdadeiro que somos gado. Mais do que gado: estamos, todos, castrados. Chicote? Faz todo sentido... Logo há de vir arreio e corrente.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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