Por que eu estudo a Bíblia, ainda hoje, mesmo depois de não ter mais uma relação fideísta com ela, nem com a religião, nem com a fé? Porque a Bíblia é uma obra histórica e política fantástica...
Deixe-me lhes contar um segredo, que não é segredo, todavia, para um pequeno número de estudiosos da Bíblia Hebraica, conquanto o seja para 99,99% dos crentes...
As grandes histórias bíblicas são escritas em ciclos: um conjunto seguido de capítulos que narram a história de determinado personagem. Por exemplo: Abrão, Jacó, Moisés, o Êxodo...
Pois deixe-me eu dizer uma coisa: se você procurar por referências a qualquer um desses personagens e eventos em passagens fora dos ciclos propriamente ditos, vai acontecer um fenômeno que, até aqui, me parece sem exceção: o que se diz desses personagens e eventos fora dos cilcios narrativos é totalmente diferente e até contrário do que sobre eles se diz nos ciclos.
Quando você se depara com isso, basta puxar o fio da meada e, a partir daí, o ciclo inteiro se desmonta, revelando-se uma invenção.
Posso explicar o fenômeno. As antigas tradições sobre esses personagens não têm nenhuma relação com os textos, todos eles escritos depois do exílio babilônico. Por razões que demoraria apresentar, as antigas tradições foram usadas no enfrentamento templo x camponeses, e histórias completamente diferentes das antigas tradições, mas sempre com os mesmos personagens, foram inventadas e escritas.
Por que novas histórias, mas os velhos personagens?
Para fazer com que a população aos poucos acreditasse que as novas histórias correspondiam aos velhos personagens, a fim de que a população fizesse o que os sacerdotes queriam, acreditando que se tratava, afinal, do que os antigos personagens faziam...
Sim, agora você pode entender porque Abraão tem que matar um cordeiro e dar o dízimo... Afinal, ele tem que fazer o que o templo quer, porque a população tem que fazer o que o templo quer...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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