1. Robson Samaio Guerra é aluno do curso de graduação em teologia do Seminário Teológico Batista do Sul. Estuda no que restou do Campus Nova Iguaçu, onde, de 1987 a 1992, eu estudei, e onde leciono desde 1993. Esse semestre, a turma de Tópicos Especiais em Teologia - e não eu - propôs estudarmos o tema do "estatuto teológico da teologia". Na prática, Robson propôs, os demais alunos aprovaram. Operacionalmente, decidimos, então, analisar os três artigos da Estudos Teológicos 47/2 (von Sinner, Mueller e Zabatiero). Terminamos o primeiro. Lemos parágrafo a parágrafo, em sala, e vamos discutindo. Solicitei uma crítica final. Robson entregou-me a sua. Tão boa é que solicitei-lhe, e ele autorizou, a sua publicação em Peroratio. O leitor julgue se, de fato, não é muito boa a sua crítica.
2. "Comentário sobre o artigo de Rudolf Von Sinner 'Teologia como ciência':
2.1 Rudolf von Sinner define teologia como a reflexão metodologicamente responsável sobre o falar de Deus.
2.2 O 'metodologicamente' da definição aponta para método científico. Contudo, está relacionado a um 'falar de Deus'. Como tratar um 'falar de Deus' de forma científica? Como o 'falar de Deus' aponta para uma Teologia ontológico-metafísica, revelada, não haveria como tratar disso cientificamente, pois não seria possível verificar a falseabilidade de suas proposições já que estas seriam produzidas a partir de uma revelação.
2.3 Penso que a proposta de von Sinner apresentada em seu artigo quer manter a Teologia como está – ontológica, metafísica e normativa – na academia. O objetivo desta Teologia na academia seria dar expressão adequada da fé (cristã) num contexto determinado e a partir da fé que a norteia – fé aí seria doutrina, dogma (p. 58), 'um conjunto de regras que norteiam' as afirmações da Teologia (p. 59). Para von Sinner, apenas de dentro – da fé – é possível compreender a fé e a Teologia, embora seja possível falar da fé de forma acadêmica, descritiva e exploratória (p. 61). Isto já seria um tremendo constrangimento na academia já que as outras disciplinas teriam que aderir à fé da Teologia para, então, poder compreender seus postulados, pois de fora poderiam até tentar descrever, mas não teriam condições de saber do que estão falando. A Teologia seria dona de um 'saber' exclusivo, único, vedado aos não-crentes. Coisa estranha para a ciência.
2.4 A Teologia seria uma 'explicação da fé a partir de uma postura de fé' (p. 62), feita a partir de uma 'tradição confessional específica' (p. 63) e não seria apenas descritiva, mas, também, normativa (p. 63). Von Sinner defende, também, citando Ingolf Ulrich Dalferth, que a Teologia – como ciência – não teria que se submeter a um princípio científico que seja alheio ao seu assunto (p. 64). Defender posições sobre assuntos de fé faria parte dos objetivos da Teologia na academia (p. 65).
2.5 Como conceber esta Teologia como ciência se tudo isso que von Sinner propõe contraria qualquer princípio científico? Esta Teologia não é ciência. Uma Teologia científica não seria normativa, não seria feita a partir da fé-doutrina, não seria uma explicação apologética desta mesma fé. Seria descritiva, exploratória, investigativa, pois aprenderia a jogar o jogo da ciência, submeter-se-ia às regras do jogo da ciência, diferentemente do que diz Dalferth. O jogo que joga a Teologia que von Sinner defende não seria o jogo da ciência. A ciência é heurística, a Teologia de von Sinner é política. São jogos com regras diferentes. A presença da Teologia como está na academia atende a interesses políticos e não contribui para o avanço da pesquisa científica. Para a Teologia estar na academia, ser científica, teria que se transformar, aprender as regras do jogo científico e começar tudo de novo. Se não se quer isso, é legítimo. Deseja continuar normativa? É de direito. Quer continuar defendendo a fé-doutrina? Pode continuar, tem todo direito. Mas... Não seria ciência. Não poderia estar na academia. Continuar assim na academia seria um constrangimento a esta. Enfim, a proposta de von Sinner não contribui para uma Teologia científica".
3. O leitor de Peroratio há de perceber que não haveria modo de eu não aprovar a crítica de Robson. Bem escrita, bem distribuída, revela tanto uma boa capacidade de leitura analítica de um texto quanto a capacidade de avaliar seus argumentos intrínsecos - explícitos e/ou não. Parabéns, Robson! E, se alguém insinuar que o que você faz é, simplesmente, repetir o discurso de seu "professor", primeiro, pensemos, ambos, se nossa relação didático-pedagógica, de fato, se dá sob essa relação mesquinha e reprovável, porque, se esse é o caso, construímos uma relação fraudulenta. Todavia, pode ser que não: pode ser apenas que você tenha, deliberadamente, assumido como ponto de perspectiva aquele mesmo ponto epistemológico em que, por minha conta, me situo, isso, no meu caso, depois de eu o ter apreendido de terceiros, como você, agora, eventualmente, de mim e de outros seus professores. Ora, qualquer um que assuma essa perspectiva - científico-humanista e crítico-epistemológica, diga-se de passagem - "verá" as coisas dessa mesma forma. Não?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. "Comentário sobre o artigo de Rudolf Von Sinner 'Teologia como ciência':
2.1 Rudolf von Sinner define teologia como a reflexão metodologicamente responsável sobre o falar de Deus.
2.2 O 'metodologicamente' da definição aponta para método científico. Contudo, está relacionado a um 'falar de Deus'. Como tratar um 'falar de Deus' de forma científica? Como o 'falar de Deus' aponta para uma Teologia ontológico-metafísica, revelada, não haveria como tratar disso cientificamente, pois não seria possível verificar a falseabilidade de suas proposições já que estas seriam produzidas a partir de uma revelação.
2.3 Penso que a proposta de von Sinner apresentada em seu artigo quer manter a Teologia como está – ontológica, metafísica e normativa – na academia. O objetivo desta Teologia na academia seria dar expressão adequada da fé (cristã) num contexto determinado e a partir da fé que a norteia – fé aí seria doutrina, dogma (p. 58), 'um conjunto de regras que norteiam' as afirmações da Teologia (p. 59). Para von Sinner, apenas de dentro – da fé – é possível compreender a fé e a Teologia, embora seja possível falar da fé de forma acadêmica, descritiva e exploratória (p. 61). Isto já seria um tremendo constrangimento na academia já que as outras disciplinas teriam que aderir à fé da Teologia para, então, poder compreender seus postulados, pois de fora poderiam até tentar descrever, mas não teriam condições de saber do que estão falando. A Teologia seria dona de um 'saber' exclusivo, único, vedado aos não-crentes. Coisa estranha para a ciência.
2.4 A Teologia seria uma 'explicação da fé a partir de uma postura de fé' (p. 62), feita a partir de uma 'tradição confessional específica' (p. 63) e não seria apenas descritiva, mas, também, normativa (p. 63). Von Sinner defende, também, citando Ingolf Ulrich Dalferth, que a Teologia – como ciência – não teria que se submeter a um princípio científico que seja alheio ao seu assunto (p. 64). Defender posições sobre assuntos de fé faria parte dos objetivos da Teologia na academia (p. 65).
2.5 Como conceber esta Teologia como ciência se tudo isso que von Sinner propõe contraria qualquer princípio científico? Esta Teologia não é ciência. Uma Teologia científica não seria normativa, não seria feita a partir da fé-doutrina, não seria uma explicação apologética desta mesma fé. Seria descritiva, exploratória, investigativa, pois aprenderia a jogar o jogo da ciência, submeter-se-ia às regras do jogo da ciência, diferentemente do que diz Dalferth. O jogo que joga a Teologia que von Sinner defende não seria o jogo da ciência. A ciência é heurística, a Teologia de von Sinner é política. São jogos com regras diferentes. A presença da Teologia como está na academia atende a interesses políticos e não contribui para o avanço da pesquisa científica. Para a Teologia estar na academia, ser científica, teria que se transformar, aprender as regras do jogo científico e começar tudo de novo. Se não se quer isso, é legítimo. Deseja continuar normativa? É de direito. Quer continuar defendendo a fé-doutrina? Pode continuar, tem todo direito. Mas... Não seria ciência. Não poderia estar na academia. Continuar assim na academia seria um constrangimento a esta. Enfim, a proposta de von Sinner não contribui para uma Teologia científica".
3. O leitor de Peroratio há de perceber que não haveria modo de eu não aprovar a crítica de Robson. Bem escrita, bem distribuída, revela tanto uma boa capacidade de leitura analítica de um texto quanto a capacidade de avaliar seus argumentos intrínsecos - explícitos e/ou não. Parabéns, Robson! E, se alguém insinuar que o que você faz é, simplesmente, repetir o discurso de seu "professor", primeiro, pensemos, ambos, se nossa relação didático-pedagógica, de fato, se dá sob essa relação mesquinha e reprovável, porque, se esse é o caso, construímos uma relação fraudulenta. Todavia, pode ser que não: pode ser apenas que você tenha, deliberadamente, assumido como ponto de perspectiva aquele mesmo ponto epistemológico em que, por minha conta, me situo, isso, no meu caso, depois de eu o ter apreendido de terceiros, como você, agora, eventualmente, de mim e de outros seus professores. Ora, qualquer um que assuma essa perspectiva - científico-humanista e crítico-epistemológica, diga-se de passagem - "verá" as coisas dessa mesma forma. Não?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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