segunda-feira, 6 de abril de 2009

(2009/145) Teologia Dialética - ossos do ofício


1. Acabo de revisar meus apontamentos para a aula de amanhã cedo, na disciplina Teologia e Método, sobre Teologia Dialética. Barth é, de fato, um "portento", um "monumento". A distância de tempo e de espaço pode levar-me a confundir sua pessoa, sua personalidade, com sua Teologia, de modo que é prudente conter-me. Contudo, é uma lição de self deception toda essa gigantesca fase da Teologia. Como é extraordinária a faculdade de um homem dotado de tamanha erudição viver dentro de um mito, racionalizá-lo, produzi-lo às catadupas, e arrastar, em seus vagalhões, a cristandade inteira... A Revolução Islâmica (Irã - 1978/1979) não me parece muito distante disso. Quem terá sido o Barth muçulmano? Felizmente, para nós, não havia aiatolás no Ocidente!

2. Ainda que tenha sido o momento de maior proximidade de ruptura metafísico-normativa na Históra da Teologia, a Teologia liberal já não era lá essas coisas, ainda, a seu tempo e modo, comprometida com critérios de "normatividade" cristã - subjetiva (Schleiermacher) e histórica (Harnack e Troeltsch). Não era, or exemplo, particularmente e necessariamente apaixonada por Feuerbach, de quem mais se afeiçoava um Engels e, a princípio, um Marx. Todavia, a Teologia Dialética conseguiu interromper um processo que poderia ter levado a uma realmente verdadeira era no Ocidente - no que diz respeito à Teologia, claro, porque essa verdadeira era no Ocidente deu-se e dá-se fora dela. Pelo que Barth significou, na universidade européia, chego a pensar que a Teologia possa, afinal, depois de ter entrado para o MEC, manter-se aquilo que é - confissão, doutrina, fé. Ter-se tornado universitária nada significa de necessariamente relevante - a Teologia européia é universitária: e o que isso significou?

3. Que atmosfera tem-se que respirar, de que relações interpessoais têm-se que privar, que atitudes, cultivar, para manter-se uma Teologia metafísica e revelada em pleno século XX? Um século XX que, nesse sentido, tem contra si os séculos XVII, XIX e XIX (principalmente o XIX).

4. Não será uma aula, eu diria, de que minha alma possa nutrir-se. Apresentarei a Teologia Dialética sem nenhum entusiasmo, salvo aquele próprio da didática professoral universitária. Malgrado apresentá-la a partir de meu horizonte crítico, hei de posicioná-la a partir de sua própria perspectiva. Ao menos, tentarei. As alunos cabe a crítica própria - a minha não os deve dirigir, conquanto eu não me esconda.

5. Adivinho que alguns alunos terão uma boa aula. Para outros, ainda mais conservadores (ah, sim, é possível, ainda, ser mais fundamentalista do que Barth, que, a despeito de sua aparência acadêmica, de seu discurso universitário, não chega muito longe de um fideísmo voluntarista estratégico e engajado). Será aquele tipo de aula em que você sai com o sentimento de dever cumprido, com a sensação de que o pão justifica, e que, contudo, comprova a tese marxiana da alienação do trabalho. Bem, não posso nunca esquecer que, para que haja aulas boas, é necessário que as haja ruins...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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