1. Jimmy, eu juro que ia parar, juro, porque achei que depois de quatro reações, todas pontuais, você poderia ficar irremediavelmente aborrecido. Mas aí, entre comendo cinco bolinhos-de-chuva que Bel requentou, e pensar em que jogo eu jogaria agora (ando um pouquinho entediado com os jogos que tenho), fui ler o parágrafo seis, de novo (porque já li o post todo, claro). Aí, Jimmy, não me contive. É uma "pérola"!
2. A começar por essa afirmação: "assim, o horizonte epistemológico da abordagem do fenômeno religioso está dado. Mito e alienação, um psico-socio-diagnóstico de uma racionalidade que busca falar sobre algo, minimamente, intratável". Veja bem, Jimmy, que é uma questão de sintaxe. Nos termos dessa sua fórmula, das duas uma, ou você afirma que o fenômeno religioso - logo, fenômeno antropológico! - é "intratável", ou, sem querer (ou, o que eu consideraria infinitamente pior, sabendo o que estava dizendo), confundiu o fenômeno religioso com a suposta grandeza metafísica que está em sua "base" - "Deus".
3. Como não posso admitir que um Mestre em Ciências da Religião considere seu objeto de estudo - a religião - um objeto intratável, como não posso admitir que um Doutorando em Teologia considere a hipótese de o fenômeno religioso ser intratável, ah, Jimmy, resta a pior das alternativas - você levar a sério, quero dizer, contra-epistemologicamente, que há uma grandeza metafísica - o "sagrado"/"o Deus" (como os confunde Croatto naquele que deveria ser uma impecável Introdução à Fenomenologia da Religião - relacionada ao fenômeno religioso. Isso é fé, Jimmy. É desde a fé que você fala? Nesse caso, tem aqui um interlocutor prejudicado, surdo e de má-vontade.
4. Mesmo beirando ao constrangedor, procurarei pôr os termos em seu devido lugar - ao menos no que diz respeito a uma sadia (a meu juízo) perspectiva epistemológica. O fenômeno religioso, posto que humano, é tratável. Para isso constituem-se as Ciências Humanas, sejam aquelas do pacote das Ciências da Religião ou das Religiões, sejam aquelas mais genéricas, que estudam qualquer fenômeno humano: Antropologia da Religião, Sociologia da Religião, Psicologia da Religião, Fenomenologia da Religião etc. A hipótese metafísica está descartada a priori, e, se o pesquisador quiser ler a experiência do candomblé pela ótica de Exu, que o faça, mas rasga o manual, tanto quanto Barth tornou imprestável a Teologia para a academia, ainda que seja ela, a barthiana, que agora dá aulas no MEC. Revelação, dogma e fé não são métodos de investigação de coisa alguma - são, antes, objeto de investigação: eventualmente, forense!
5. Já a suposta grandeza "sagrado", que você, por essa via de interpretação, chama de "intratável", somente o seria pelo viés da fé - é o fiel quem diz haver o sagrado. A Fenomenologia da Religião, quando não cooptada pela Teologia, reduz essa fé universal, cultural histórica, a um princípio hiperônimo (um conjunto "genérico" dentro do qual estariam, lado a lado, as várias concretizações locais da "fé"). Nesse caso, ainda aí o "sagrado" converte-se em objeto de estudo, e se você leu minimamente Eliade, sabe do que estou falando (esquece Otto, que Otto não faz Fenomenologia da Religião, nem aqui, nem na China: aquilo é Teologia, e pronto).
6. Agora, se o que você diagnosticou de "intratável" é a superfície retórica de um apontamento fideísta para qualquer coisa próxima do que se convensionou, entre os fiés, a chamar de "Deus", ah, Jimmy, sua crítica ao Nicodemus na abertura torna-se despropositada... Se o "intratável", aí, é alguma coisa próxima da idéia de "Deus", Jimmy, ainda que você seja meu amigo, e Nicodemus não seja especialmente ninguém de meu interesse particular, serei obrigado a dizer que a distância entre esse Nicodemus e esse Jimmy é aquela que separa Tillich de Barth - retórica. Até uma eventualmnente pressuposta diferença política reduz-se a nada. Se considero manipulação de consciência religiosa tanto o discruso teológico da direita teológica, quanto da esquerda, como consideraria distintas as "fés" de Nicodemus e sua?
7. "Debaixo do tapete colocamos o intratável", você acusa, e, ainda, depois de ter escrito que, para o fazer, "é só decorar a cartilha de crítica religiosa de um Feuerbach e de um Marx". Quase chego a duvidar de que eu esteja lendo isso. É como se eu apenas repetisse aqueles senhores, depois de ler meio parágrafo deles aqui e ali, eventualmente, até, por meio de terceiros e contra-capas, como se a minha crítica não tivesse minha própria substância, a ponto de você, Élcio e um Justi, por isso constrangido, acusarem-me, na "brincadeira", durante todo um trajeto Rio-São Paulo (três contra um, e eu nem podia descer!), de tirar coisas "da minha cabeça", com o que vocês, naquele momento, queriam denunciar a idiossincrasia esdrúxula e risível de minhas idéias (vocês foram cruéis, e me calei, doído). E, no entanto, agora, acusa-me de decorar o manual da crítica. Decida-se, moço... Com que cabeça, afinal, pensa a minha cabeça?
8. Se, por outro lado, Jimmy, você acha que, por um voluntarismo filosófico-teológico vai poder "tratar" desse coisa eventual que diz ser intratável, e nos seus termos, se pensa que vai falar de Deus, do fogo de Deus, do sagrado - deixe-me assumir, mais uma vez, o papel que Huizinga reserva aos desmancha-prazeres: vai, não, Jimmy, que todas as vezes que o fizer, mente, seja para si, seja para quem deixar-se enamorar das parábolas da fumaça do cachimbo. É a isso que se resume a referência ao "metafísico" mitológico, por mais força que se faça para sair desse atoleiro. Além disso, entregar-se a um palavrório pseudo-místico (uma mística que enfia a cabeça no buraco?), porque Deus é intratável, aí já beira o inominável...
9. Devia, ao contrário, ser um bocadinho assim mais consciencioso (eu escrevera "respeitoso", e, agora, na revisão, troquei a expressão). Se leu metade do que diz ter lido, sabe a hipótese de trabalho e os pressupostos que movem a reflexão romântica (Ciências Humanas) e, recentemente, cognitiva e complexa. Sabe que o compromisso é epistemológico, e, nesses termos, o que quer que haja para além da matéria, do mundo natural, é inominável. Não é jogar para debaixo do tapete, Jimmy, é reconhecer o que é óbvio - e, se não reconhece isso, deve ter suas "razões". Não vou me intrometer nelas, mas vou, sim, dizer que você está, segundo os cânones da Epistemologia, assumindo uma posição platônica - depois de tê-lo defenestrado em seus textos de inauguração juvenil. Platão é o pai do dedo que aponta o "Mistério" - chame-o, você, de "intratável", faz o mesmo que Platão fazia. As conseqüências, Jimmy, são as mesmas. Não vou repeti-las a um Mestre doutorando...
10. Para encerrar, você conclui assim seu parágrafo, na verdade, abrindo-o para outras "acusações", das quais já tremo: "Os cavaleiros do XIX foram avassaladores, como avassaladora é a pena dos meus amigos blogueiros. Competentes (des)construtores de dogmas, filólogo(s) da mais alta estirpe (lêem como ninguém a tradição), continuam a grande tradição muito bem sintetizada pelo racionalista kantiano, filósofo e historiador da religião Ernest Troeltsch". Que "bomba" há de explodir em minha cara, agora, subitamente, transformado num troeltschista. Se ele disser metade do que você disse, mando-o, a ele, ao inferno, que a você tolero um pouco mais porque, de certa culpa, a culpa é toda minha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. A começar por essa afirmação: "assim, o horizonte epistemológico da abordagem do fenômeno religioso está dado. Mito e alienação, um psico-socio-diagnóstico de uma racionalidade que busca falar sobre algo, minimamente, intratável". Veja bem, Jimmy, que é uma questão de sintaxe. Nos termos dessa sua fórmula, das duas uma, ou você afirma que o fenômeno religioso - logo, fenômeno antropológico! - é "intratável", ou, sem querer (ou, o que eu consideraria infinitamente pior, sabendo o que estava dizendo), confundiu o fenômeno religioso com a suposta grandeza metafísica que está em sua "base" - "Deus".
3. Como não posso admitir que um Mestre em Ciências da Religião considere seu objeto de estudo - a religião - um objeto intratável, como não posso admitir que um Doutorando em Teologia considere a hipótese de o fenômeno religioso ser intratável, ah, Jimmy, resta a pior das alternativas - você levar a sério, quero dizer, contra-epistemologicamente, que há uma grandeza metafísica - o "sagrado"/"o Deus" (como os confunde Croatto naquele que deveria ser uma impecável Introdução à Fenomenologia da Religião - relacionada ao fenômeno religioso. Isso é fé, Jimmy. É desde a fé que você fala? Nesse caso, tem aqui um interlocutor prejudicado, surdo e de má-vontade.
4. Mesmo beirando ao constrangedor, procurarei pôr os termos em seu devido lugar - ao menos no que diz respeito a uma sadia (a meu juízo) perspectiva epistemológica. O fenômeno religioso, posto que humano, é tratável. Para isso constituem-se as Ciências Humanas, sejam aquelas do pacote das Ciências da Religião ou das Religiões, sejam aquelas mais genéricas, que estudam qualquer fenômeno humano: Antropologia da Religião, Sociologia da Religião, Psicologia da Religião, Fenomenologia da Religião etc. A hipótese metafísica está descartada a priori, e, se o pesquisador quiser ler a experiência do candomblé pela ótica de Exu, que o faça, mas rasga o manual, tanto quanto Barth tornou imprestável a Teologia para a academia, ainda que seja ela, a barthiana, que agora dá aulas no MEC. Revelação, dogma e fé não são métodos de investigação de coisa alguma - são, antes, objeto de investigação: eventualmente, forense!
5. Já a suposta grandeza "sagrado", que você, por essa via de interpretação, chama de "intratável", somente o seria pelo viés da fé - é o fiel quem diz haver o sagrado. A Fenomenologia da Religião, quando não cooptada pela Teologia, reduz essa fé universal, cultural histórica, a um princípio hiperônimo (um conjunto "genérico" dentro do qual estariam, lado a lado, as várias concretizações locais da "fé"). Nesse caso, ainda aí o "sagrado" converte-se em objeto de estudo, e se você leu minimamente Eliade, sabe do que estou falando (esquece Otto, que Otto não faz Fenomenologia da Religião, nem aqui, nem na China: aquilo é Teologia, e pronto).
6. Agora, se o que você diagnosticou de "intratável" é a superfície retórica de um apontamento fideísta para qualquer coisa próxima do que se convensionou, entre os fiés, a chamar de "Deus", ah, Jimmy, sua crítica ao Nicodemus na abertura torna-se despropositada... Se o "intratável", aí, é alguma coisa próxima da idéia de "Deus", Jimmy, ainda que você seja meu amigo, e Nicodemus não seja especialmente ninguém de meu interesse particular, serei obrigado a dizer que a distância entre esse Nicodemus e esse Jimmy é aquela que separa Tillich de Barth - retórica. Até uma eventualmnente pressuposta diferença política reduz-se a nada. Se considero manipulação de consciência religiosa tanto o discruso teológico da direita teológica, quanto da esquerda, como consideraria distintas as "fés" de Nicodemus e sua?
7. "Debaixo do tapete colocamos o intratável", você acusa, e, ainda, depois de ter escrito que, para o fazer, "é só decorar a cartilha de crítica religiosa de um Feuerbach e de um Marx". Quase chego a duvidar de que eu esteja lendo isso. É como se eu apenas repetisse aqueles senhores, depois de ler meio parágrafo deles aqui e ali, eventualmente, até, por meio de terceiros e contra-capas, como se a minha crítica não tivesse minha própria substância, a ponto de você, Élcio e um Justi, por isso constrangido, acusarem-me, na "brincadeira", durante todo um trajeto Rio-São Paulo (três contra um, e eu nem podia descer!), de tirar coisas "da minha cabeça", com o que vocês, naquele momento, queriam denunciar a idiossincrasia esdrúxula e risível de minhas idéias (vocês foram cruéis, e me calei, doído). E, no entanto, agora, acusa-me de decorar o manual da crítica. Decida-se, moço... Com que cabeça, afinal, pensa a minha cabeça?
8. Se, por outro lado, Jimmy, você acha que, por um voluntarismo filosófico-teológico vai poder "tratar" desse coisa eventual que diz ser intratável, e nos seus termos, se pensa que vai falar de Deus, do fogo de Deus, do sagrado - deixe-me assumir, mais uma vez, o papel que Huizinga reserva aos desmancha-prazeres: vai, não, Jimmy, que todas as vezes que o fizer, mente, seja para si, seja para quem deixar-se enamorar das parábolas da fumaça do cachimbo. É a isso que se resume a referência ao "metafísico" mitológico, por mais força que se faça para sair desse atoleiro. Além disso, entregar-se a um palavrório pseudo-místico (uma mística que enfia a cabeça no buraco?), porque Deus é intratável, aí já beira o inominável...
9. Devia, ao contrário, ser um bocadinho assim mais consciencioso (eu escrevera "respeitoso", e, agora, na revisão, troquei a expressão). Se leu metade do que diz ter lido, sabe a hipótese de trabalho e os pressupostos que movem a reflexão romântica (Ciências Humanas) e, recentemente, cognitiva e complexa. Sabe que o compromisso é epistemológico, e, nesses termos, o que quer que haja para além da matéria, do mundo natural, é inominável. Não é jogar para debaixo do tapete, Jimmy, é reconhecer o que é óbvio - e, se não reconhece isso, deve ter suas "razões". Não vou me intrometer nelas, mas vou, sim, dizer que você está, segundo os cânones da Epistemologia, assumindo uma posição platônica - depois de tê-lo defenestrado em seus textos de inauguração juvenil. Platão é o pai do dedo que aponta o "Mistério" - chame-o, você, de "intratável", faz o mesmo que Platão fazia. As conseqüências, Jimmy, são as mesmas. Não vou repeti-las a um Mestre doutorando...
10. Para encerrar, você conclui assim seu parágrafo, na verdade, abrindo-o para outras "acusações", das quais já tremo: "Os cavaleiros do XIX foram avassaladores, como avassaladora é a pena dos meus amigos blogueiros. Competentes (des)construtores de dogmas, filólogo(s) da mais alta estirpe (lêem como ninguém a tradição), continuam a grande tradição muito bem sintetizada pelo racionalista kantiano, filósofo e historiador da religião Ernest Troeltsch". Que "bomba" há de explodir em minha cara, agora, subitamente, transformado num troeltschista. Se ele disser metade do que você disse, mando-o, a ele, ao inferno, que a você tolero um pouco mais porque, de certa culpa, a culpa é toda minha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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