1. ... e "abusado"! A começar pelo título... Que bom, Jimmy, que, Fênix, recompõe-te das cinzas de um desaparecimento (ou eu deveria dizer, de "um mergulho nas fossas "pacíficas" do Mar Pondé?"). Que bom. Todavia, de seu mergulho abissal, retornaste com um tridente furtado a Tritão, e, ai!, com ele, deste a xuxar o nosso traseiro - o de Haroldo e o meu. Não sei como Haroldo há de reagir - Haroldo é um "gentil homem", ao passo que eu me transformo, às vezes, quando a Arena é o papel ou a tela, numa espécie "acadêmica" de Mr. Hyde. Alvíssaras, Jimmy, o sol brilha elegantemente, hoje, domingo, "Dia do Senhor" (no entanto, nós, protestantes, acabamos com a concentração do "sagrado", e, fazendo de todos os dias, "Dia do Senhor", tomamos dele todos os dias que fizera...), sobram-me poucos goles do preparado que, Jekyll, eu fizera. Logo, haverá de ser - bem, é tudo quanto posso antecipar - mui cortez minha reação. Eu acho.
2. Vou comentar como gosto, parágrafo a parágrafo. A atitude geral de "aprovar" ou "reprovar" um texto é, as mais das vezes, imprópria. Sim, pode-se reduzir um texto inteiro a nada, quando se consegue demonstrar que a base, a única, sobre a qual ele está assentado, não tem sustentação. Sem base, rui todo o edifício - literalmente. No entanto, nesse mesmo texto, pode haver afirmações válidas, porque sustentadas por argumentos circunstanciais, locais, apropriados, válidos. O contrário, também: textos, no todo, válidos, podem, contudo, conter regiões prejudicadas, pelas razões que apresentei. Assim, independentemente de minha impressão - meu juízo - a respeito do "todo", ensaiarei ir comentando "nave" a "nave" dessa neocatedral cripto-gótica... até pôr-me, de pé, claro, em frente ao seu altar.
3. Do § 1: "No estremecer dos vitrais, caíram todos os mitos programáticos capazes de legitimar a ordenação de um mundo que se percebeu despedaçado". Bem, sim e não. Sim, se você considerar o mundo pela ótica do XIX, o que significa que a permanência indiscutível desses mitos que você diz terem caído é interpretada como "alienação", seja em sentido antropológico complexo (Marx), seja em sentido idealista (Feuerbach), seja em sentido psicológico (Freud). Na prática, não caiu nenhuma catedral no XIX. Caiu uma - a única, em 1789. O que os "românticos" - meus heróis e diabos - fizeram não teve, na prática, o efeito político que teve a Revolução. O que eles estabeleceram foi uma via alternativa, uma nova Epistemologia - que você ou usa, ou não usa. Mas o tabuleiro para esse jogo ser jogado foi construído antes de o jogo ser vendido em lojas de departamento. Faço-me compreensível? Sobre a plataforma pós-Revolução, o XIX (no que ele tem de "diabólico"), é natural. Todavia, se não houvesse eclodido a Revolução, antes, se a Igreja ainda controlasse a "cultura", o "poder constituído" (sabemos que a controlava, ainda, subrepticiamente, mas não é, mais, a mesma coisa), o XIX teria sido enfrentado por meio de outras "armas".
4. Assim, para mim, alguém que bebeu tanto daquele vinho que "existe" em constante estado de embriaguez, sim, aquelas catedrais - Jimmy: "aquelas" -, caíram. Nenhuma Instituição "religiosa" - nenhuma -, diante de meus olhos, deixa-se carregar de brilho "patológico" - de pathos, para espetar-te um pouco... Acabou o "mistério" aí. Nunca houve mistério algum aí, porque elas mesmas transformaram o eventual mistério da vida em "credo", porque somente se controla o que não é mistério. Todavia, isso é o que se dá diante de meus olhos. Quanto aos olhos do XX - Peter Berger que o diga! -, as coisas são bem outras, e, eventualmente, muito mais na direção dessa insinuação levinasiana que você destilou do que na direção dos iconoclastas queridos do XIX. O XIX ainda não chegou...
5. Além disso, Jimmy, não é - nem de longe - verdade que o "mito" caiu com o XIX. Os Estados Nacionais souberam "secularizá-lo" convenientemente, para a demonstração de cuja tese basta a leitura da poesia dos hinos nacionais, o brasileiro, por exemplo, posto que, se ainda relativamente tardio em relação aos europeus, por exemplo, é, contudo, primor de composição mítico-religiosa, a falar de "ó Pátria Amada, idolatrada, salve, salve", de "Terra adorada", de "Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!", de "um filho teu não foge à luta". Tudo isso, que é, senão mito - e mito teológico? Como assim, então, caíram as catedrais? Caíram, nada. Estão todas aí - todas. Não caiu nenhuma.
2. Vou comentar como gosto, parágrafo a parágrafo. A atitude geral de "aprovar" ou "reprovar" um texto é, as mais das vezes, imprópria. Sim, pode-se reduzir um texto inteiro a nada, quando se consegue demonstrar que a base, a única, sobre a qual ele está assentado, não tem sustentação. Sem base, rui todo o edifício - literalmente. No entanto, nesse mesmo texto, pode haver afirmações válidas, porque sustentadas por argumentos circunstanciais, locais, apropriados, válidos. O contrário, também: textos, no todo, válidos, podem, contudo, conter regiões prejudicadas, pelas razões que apresentei. Assim, independentemente de minha impressão - meu juízo - a respeito do "todo", ensaiarei ir comentando "nave" a "nave" dessa neocatedral cripto-gótica... até pôr-me, de pé, claro, em frente ao seu altar.
3. Do § 1: "No estremecer dos vitrais, caíram todos os mitos programáticos capazes de legitimar a ordenação de um mundo que se percebeu despedaçado". Bem, sim e não. Sim, se você considerar o mundo pela ótica do XIX, o que significa que a permanência indiscutível desses mitos que você diz terem caído é interpretada como "alienação", seja em sentido antropológico complexo (Marx), seja em sentido idealista (Feuerbach), seja em sentido psicológico (Freud). Na prática, não caiu nenhuma catedral no XIX. Caiu uma - a única, em 1789. O que os "românticos" - meus heróis e diabos - fizeram não teve, na prática, o efeito político que teve a Revolução. O que eles estabeleceram foi uma via alternativa, uma nova Epistemologia - que você ou usa, ou não usa. Mas o tabuleiro para esse jogo ser jogado foi construído antes de o jogo ser vendido em lojas de departamento. Faço-me compreensível? Sobre a plataforma pós-Revolução, o XIX (no que ele tem de "diabólico"), é natural. Todavia, se não houvesse eclodido a Revolução, antes, se a Igreja ainda controlasse a "cultura", o "poder constituído" (sabemos que a controlava, ainda, subrepticiamente, mas não é, mais, a mesma coisa), o XIX teria sido enfrentado por meio de outras "armas".
4. Assim, para mim, alguém que bebeu tanto daquele vinho que "existe" em constante estado de embriaguez, sim, aquelas catedrais - Jimmy: "aquelas" -, caíram. Nenhuma Instituição "religiosa" - nenhuma -, diante de meus olhos, deixa-se carregar de brilho "patológico" - de pathos, para espetar-te um pouco... Acabou o "mistério" aí. Nunca houve mistério algum aí, porque elas mesmas transformaram o eventual mistério da vida em "credo", porque somente se controla o que não é mistério. Todavia, isso é o que se dá diante de meus olhos. Quanto aos olhos do XX - Peter Berger que o diga! -, as coisas são bem outras, e, eventualmente, muito mais na direção dessa insinuação levinasiana que você destilou do que na direção dos iconoclastas queridos do XIX. O XIX ainda não chegou...
5. Além disso, Jimmy, não é - nem de longe - verdade que o "mito" caiu com o XIX. Os Estados Nacionais souberam "secularizá-lo" convenientemente, para a demonstração de cuja tese basta a leitura da poesia dos hinos nacionais, o brasileiro, por exemplo, posto que, se ainda relativamente tardio em relação aos europeus, por exemplo, é, contudo, primor de composição mítico-religiosa, a falar de "ó Pátria Amada, idolatrada, salve, salve", de "Terra adorada", de "Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!", de "um filho teu não foge à luta". Tudo isso, que é, senão mito - e mito teológico? Como assim, então, caíram as catedrais? Caíram, nada. Estão todas aí - todas. Não caiu nenhuma.
6. Com o que se deve corrigir: nem aos olhos de alguém como eu, um "filho do XIX", elas caíram, porque como poderia eu dizer que "caíram as catedrais"? Só por meio de recalque da realidade, um demiurgo, eu, dando a vitória, por mera decisão psicológica, ao princípio de prazer, contra o princípio de realidade, para citar um dos "monstros" comedores de catedrais que você citou. Não, Jimmy, não me iludo. Quisera, sim, que elas, as catedrais, como são, banquetes de alienação, tivessem caído - também, na política! Mas não. Estão bem firmes. Sua bandeira tremula, febril, no pináculo. Eventualmente, ouvem-se seus megafones... E até penso que atitudes como a de Lévinas, por exemplo (eu podia ter chegado mais perto, não podia?, e ter sido um pouco mais, digamos, "perverso"), servem de arrimo a elas, como aqueles que se tiveram de pôr a sustentar Pisa, recentemente. Não está clara para mim a relação entre os interesses de Lévinas e elas, mas que os interesses, aí, conciliam-se, não tenho lá tantas dúvidas - se é que as tenho.
7. Ainda no § 1: "nesse nosso areópago blasé". O quê? Perorario - um areópago blasé? Bem, Jimmy, não sei exatamente com que sentido você usou essa expressão. Será preciso que você a explicite, para que eu saiba exatamente se você tem razão - ou não. Antecipo alternativas: "Segundo Simmel, blasé é um dos dois extremos do comportamento humano influenciado pela vida moderna, no qual a pessoa, em meio à coisificação e planificação causada pelo dinheiro e controle rígido do tempo, mergulha em sua própria subjetividade sem se envolver com o ambiente externo, o qual considera despresível" (para a fonte, cf. aqui). Não, não pode ser isso que você quis dizer, porque você mesmo classifica esse espaço, e a Haroldo e eu (quanto a mim, não tenho dúvidas, quanto a Haroldo, ele se pronuncie), como iconoclastas. Ora, blasé, nesse caso, é o inverso de iconoclastia...
8. O que eu tenho feito em relação às Teologia ontológico-metafísica, e, mais acidamente, à Teologia metafórica, quer comportamento menos blasé do que esse? Obviamente que eu não vou pôr o dedo à boca dos senhores teólogo ontológico-metafísicos e metafóricos, como se eu pudesse fazê-los calar - e quizesse fazê-los calar. Queria-os calados, se quizessem assim estar, se acreditassem que estão a serviço da alienação, mas não serei eu a forçá-los a tanto. O que não significa que minha atitude seja blasé, porque, a cada pronunciamento que encontro, venho aqui e dou de três a quatro marteladas - e para doer. Como assim - blasé?
9. Também não pode ser o caso de você usar o termo como "superior". Nesse caso, furto-me ao comentário. O que Peroratio é, acima de tudo, é uma ágora cujo jogo está dado pelas Ciências Humanas, cuja retórica é - sem tergiversações pseudo-cultas -, epistemológica. Não, não vejo nada, absolutamente nada de blasé em Peroratio. Salvo, se você cunhou um sentido novo para blasé. Vou esperar sua explicação - quem sabe, nessa nova acepção do termo, Peroratio não seja, afinal, algo blasé?
10. Mas que é engraçado é: Fanuel diz que Peroratio é Gaza. Jimmy, que é blasé. Como os termos são complicados, não? Quase me sinto confuso...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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