1. As reações são necessárias. Porque o artifício é anacrônico. Excomunhão se faz na tribo em que não há outra alternativa. O poder do cacique e do pajé faz lei entre todos. Retira-se o índio do acesso ao alimento comunitário. Sua chance, se é que a tem, é morar e, provavelmente, morrer na floresta.
2. A 'cristandade' foi (é) a idéia de uma grande tribo, na qual cacique e pajé fazem a lei universal. Todo um aparato de produção teológica e ideológica foi colocado a serviço, especialmente a partir da virada constantiniana. Mas, em proporções distintas, já ahvia antes. Afinal, o recurso é antigo.
3. Excomunhão é construção simbólica. É produção de mito. O mito, dito comunitário, torna-se instrumento retórico-político disponível para a disciplina e o franco uso do poder. E poder opera multilateralmente, de direita, de esquerda, de centro, até em seus espaços microfísicos.
4. Excomunhão é operacionável em contexto de suposta tribo, fechada, de fronteiras delimitadas, sem alternativas de sobrevida na mata ou para além da mata. Hoje, porém, a mata - claro essa mata metafórica - é habitável; tornou-se lugar tão próprio de vida em autonomia, sem as ordens e a disciplina de cacique e pajé. Heteronomia vai cessando. Cessou. Há outros lugares. São possíveis.
5. O embate continuará duro. Autonomia versus heteronomia. Mesmo o posicionamento autônomo continua a resvalar em direção da heteronoia. O desafio, contudo, é sair da imaturidade auto-incorrida.
6. A lei, supostamente construída de forma autômona, atua de modo heterônomo. Delimita as possibilidades, sanciona os corpos trangressores. Quando o assunto é 'defender a vida', deve-se lembrar que há sempre várias vidas em jogo em cada transgressão. No caso da excomunhão, há a vida da jovem mãe, dos nascituros, do estuprador. Há bens jurídicos a serem salvaguardados. Por mais justa e conscienciosa que seja a salvaguarda da vida dos nascituros, pode-se sacrificar a vida da mãe violentada de diversas formas em sua dignidade?
7. Nem céu, nem inferno, nem limbo - porque este não lugar já anunciado como não existente. Sim: cidade humana com leis humanas, com a melhor justiça que se pode fazer, no exercício dialógico e na limitação de campos e competencias. A tribo universal foi superada.
HAROLDO REIMER
2. A 'cristandade' foi (é) a idéia de uma grande tribo, na qual cacique e pajé fazem a lei universal. Todo um aparato de produção teológica e ideológica foi colocado a serviço, especialmente a partir da virada constantiniana. Mas, em proporções distintas, já ahvia antes. Afinal, o recurso é antigo.
3. Excomunhão é construção simbólica. É produção de mito. O mito, dito comunitário, torna-se instrumento retórico-político disponível para a disciplina e o franco uso do poder. E poder opera multilateralmente, de direita, de esquerda, de centro, até em seus espaços microfísicos.
4. Excomunhão é operacionável em contexto de suposta tribo, fechada, de fronteiras delimitadas, sem alternativas de sobrevida na mata ou para além da mata. Hoje, porém, a mata - claro essa mata metafórica - é habitável; tornou-se lugar tão próprio de vida em autonomia, sem as ordens e a disciplina de cacique e pajé. Heteronomia vai cessando. Cessou. Há outros lugares. São possíveis.
5. O embate continuará duro. Autonomia versus heteronomia. Mesmo o posicionamento autônomo continua a resvalar em direção da heteronoia. O desafio, contudo, é sair da imaturidade auto-incorrida.
6. A lei, supostamente construída de forma autômona, atua de modo heterônomo. Delimita as possibilidades, sanciona os corpos trangressores. Quando o assunto é 'defender a vida', deve-se lembrar que há sempre várias vidas em jogo em cada transgressão. No caso da excomunhão, há a vida da jovem mãe, dos nascituros, do estuprador. Há bens jurídicos a serem salvaguardados. Por mais justa e conscienciosa que seja a salvaguarda da vida dos nascituros, pode-se sacrificar a vida da mãe violentada de diversas formas em sua dignidade?
7. Nem céu, nem inferno, nem limbo - porque este não lugar já anunciado como não existente. Sim: cidade humana com leis humanas, com a melhor justiça que se pode fazer, no exercício dialógico e na limitação de campos e competencias. A tribo universal foi superada.
HAROLDO REIMER
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