quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

(2009/018) Não estamos sós... infelizmente


1. A vida é um fenômeno coletivo - mais do que ecológico: coletivo. Se ecológico, se apenas ecológico, poderíamos considerar a exiostência como possível para um homem ou uma mulher situados em determinado nicho, vivendo como nós vivemos, mas sem a dependência inelutável dos "outros". Acordar, comer, dormir. Isso seria a vida - com as invenções possíveis para um ser solitário, inexoravelmente só.

2. Mas não - a vida é impossível assim. Eventualmente. Todos os meios que inventamos de viver exigem a ação conjunta de pessoas: vizinhos, funcionários, anônimos. Minha vida, a sua vida, não depende de mim, de você - apenas. Para que eu viva, e bem, preciso, sem que nada possa fazer a respeito, do outro, dos outros, preciso que eles vivam "como se deve viver". Se eles, o outro, os outros, não colaboram, não fazem sua parte, não vivem como devem viver, é minha vida que paga o preço, porque a minha vida depende do modo como eles vivem.

3. Em todos os sentidos - consumo de água e energia (pago o "gato" de cínicos vizinhos), a poluição (sonora inclusive), a saúde, o trabalho, o bem-estar, a economia, o laser. É-me sumamente impossível trancar-me dentro de casa, dentro de mim mesmo, e fingir que não preciso que cada um viva como deve. Tudo, em minha existência, está relacionado à forma como inventamos de viver, essa forma coletiva, simbiótica, indissolvível.

4. Posso, como muitos, simplesmente dar de ombros e tornar-me um cínico. Mas como? Também isso transforma-se em retorno, exigindo de mim cada vez mais cinismo, até a loucura ou a imbecilidade, meu filho tornando-se mais imbecil do que eu, e, naturalmente, meu neto, ainda mais que a soma dos quadrados de minha imbelicidade e da de meu filho.

5. Estou preso à necessidade de que cada qual viva como deve viver, asim como cada qual depende de que eu viva como devo viver. Se eles não fazem isso, sofro. Se eu não faço isso, eles sofrem. Não quisera que a vida fosse assim. Quisera que tudo dependesse, apenas, de mim, nem que, para isso, eu vivesse só. Mas não é assim a vida. Não me cabe nascer, só viver, mas, e isso é trágico, também me é furtada a decisão de escolher se viverei na colmeia humana, ou não.

6. A indiferença social é meu túmulo, quer eu queira, quer não queira, cedo ou tarde.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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