segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

(2008/105) Autonomia e coragem


1. É bom ter um parceiro de diálogo como Osvaldo. Por vezes dói receber suas acuradas percepções críticas a um texto exposto publicamente. Mas, isso é agorá. É discussão pública. É discussão que afia o espírito para a percepção mais acurada e cientificamente fundamentada.

2. Assim, trato de [me] corrigir. No tocante à morte de Benjamin, no texto de Hannah Arendt consta somente que "optou pela morte" (p.165). Em outros textos fala-se das circunstâncias nebulosas‘ que envolvem a sua morte, talvez por injeção de morfina. Não tendo outra fonte disponível, consultei, agora, a Wikipédia em alemão e lá há uma informação de que Benjamin teria ditado uma carta a um companheiro de caravana em rota de busca de outro espaço para viver e que esta carta teria ido parar nas mãos de Adorno. Mas que, em contraposição à tese comum de suicídio de Benjamin, haveria especulações sobre o assassinato dele, que vão desde um suicídio 'forjado' até atentado praticado por agentes de Stalin. Isso para corrigir a afirmação não devidamente fundamentada.

3. Outra é a questão do desespero. Esta coberto de razão o meu amigo em contradizer o senso de que ultima ratio do suicídio deva ser movida por ‚desespero‘. Claro, trazendo à memória os judeus de Massada, havemos de concordar que se tratou de um ato de autonomia. Tirar a própria vida pode ser ato de autonomia, neste caso, de autonomia levada às últimas conseqüências. Imediatamente me vêm à mente algumas produções cinematográficas recentes como Mar adentro e Menina de ouro, nas quais o tema do suicídio assistido é colocado em tela. Especialmente na primeira, a ênfase é a liberdade e a autonomia do sujeito frente à sua própria vida.

4. Digamos que outro estivesse na pele de Benjamin. Sim, concordo. Quer faríamos nós? Que faria eu? Lembro ainda de outro filme, creio que alemão e em preto e branco, em que um judeu condenado à forca canta e dança na frente do juiz e do algoz. Ele leva a autonomia até o momento extremo, não dando vazão ao desespero. Sim, há que se tratar o suicídio como um direito derivado do pleno exercício da autonomia.

5. Relendo texto sobre e de Dietrich Bonhoeffer, morto por enforcamento em 1945 após alguns anos de prisão por participação em atentado contra Hitler, encontrei uma passagem que gostaria de compartilhar neste tópico. De Boenhoeffer se dizia que deixava sua cela “sereno, alegre e firme qual dono que sai de seu castelo”. Num poema escrito em 1944, Dietrich Boenhoffer (Discípulo, testemunha, mártir, São Leopoldo, Sinodal, 2007, p.102), ele se pergunta:

5.1 “Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?
E diante de mim mesmo um covarde queixoso e desperezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será como exército derrotado,
Que foge desordenado à vista da vitória já obtida
?"



HAROLDO REIMER

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