terça-feira, 11 de novembro de 2008

(2008/36) Teologia e cidadania acadêmica

1. A palavra 'teologia' tem, no mínimo, duplo sentido. É método e é conteúdo.

2. Em geral, usa-se mais como referência a conteúdo. Dizemos "aprender teologia" ou "ensinar teologia". Trata-se aí de um conjunto de narrativas, construídas, sistematizadas. O conjunto forma a 'tradição teológica'. Os textos fundantes assim como as sistematizações fazem parte da 'tradição'. Formam um pacote, com variações e com embalagens diferenciadas.

3. Mas 'teologia' também é método. Claro, o método tradicional ainda é o medieval, tendo como ponto de partida "aquilo que está além do físico", a "causa não causada", para dizê-lo em palavras de Aristóteles. Mas está aí dentro a expressão 'lógos'. Esta remete para discurso, estudo, reflexão, sistematização, experiência, racionalização. Aí há muito o que fazer. Não há clareza epistemológica ou mesmo metodológica.

4. A 'teologia', nesta ambiguidade, deve permanecer na academia. Deve perseverar aí onde conseguiu chegar, ainda que formalmente.

5. No Brasil, a teologia só há poucos anos foi admitida como cidadã na academia. Num misto de metafísica e heurística adentrou em um espaço em geral dominado pelo positivismo, pela suposta supremacia do racional. Aí ainda é estranha; é estranhada. Afinal, ao menos por aqui nunca falou muito com as outras ciências, que já gozam da cidadania há mais tempo. A esperança, contudo, não nos abandona.

6. A teologia tem presença formal na academia. Sua entrada no espaço do MEC sabidamente já foi antecipada pela pós-graduação, na Capes. Reconhecimento merecem os homens e as mulheres de São Leopoldo, da Escola Superior de Teologia, que arduamente ajudaram a preparar essa entrada. A lei impôs critérios formais: organização didático-pedagógica, corpo docente e infra-estrutura. Nada disse sobre conteúdos. Também não poderia. Afinal, a constituição de base republicana sancionou o ideal revolucionário francês da separação entre igreja e estado. E essa separação há que manter. Por isso o acesso é formal.

7. O conteúdo e o método são tarefa e demanda para quem entrou e para quem quer adentrar o espaço 'oficial' do Mec. Mas não há que inventar a roda! Somos herdeiros, por vezes sempre meio tardios, mas por sorte com transformações idiossincráticas, de uma herança européia de fazer teologia. Aí o histórico-crítico há tempo já faz parte da teologia enquanto método. A vertente histórico-social também se consagrou em âmbitos da casa da teologia. É verdade que, muitas vezes, isso se dá mais no âmbito da exegese bíblica, permanecendo desiderato para as demais 'áreas' da teologia, talvez exceto para a história.

8. Há vários anos venho participando de comissões de avaliação in loco de cursos de graduação de teologia, tanto para autorização quanto para reconhecimento. O objetivo é a verificação das formalidades legais. Mas tenho procurado, tanto quanto possível, dialogar e provocar a discussão sobre epistemologia e método. Tenho visto em vários lugares que as novas demandas e os passos dados vão transformando consciência ingênua em consciência crítica. Há muita resistência. Mas há um despertar!


HAROLDO REIMER

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