terça-feira, 11 de novembro de 2008

(2008/38) De minhas impertinência e incontinência


1. Meu amigo Haroldo, seu último post (2008/36) é um "pronunciamento" bastante impessoal. É como que dirigido a todos - logo, a ninguém em especial. E, contudo, encontro, nele, reações ao meu "programa" de Transformação da Teologia.

2. Penso que é necessário que eu amadureça minha posição. Logo, não vou polemizar, reagindo ao seu post, Haroldo, não uma reação ao estilo de que gosto: pinçar excertos-chave, e comentar. Deixemos o tempo agir. Homeopaticamente.

3. Gostaria apenas de deixar registrado que não se trata, absolutamente, no "meu" caso, de "inventar a roda". Por outro lado, Haroldo, não se trata, tampouco, de andar em roda velha. A pertença à tradição, a meu ver e juízo, logo, a meu risco, não se faz apenas necessariamente pela recitação de "textos fundantes" - pode-se fazê-lo pela sua crítica. É o meu caso.

4. Haroldo, considero que o século XIX inventou a roda. Kant, Schopenhauer, Marx, Nietzsche, Dilthey, Peirce, um certo Heidegger... Nele, depois dele, a roda é (pode ser!) nova. Meu mero desejo, libido de um velho homem cansado, é, apenas, adequar minha herança - a Teologia velha - aos pressupostos apresentados por aqueles senhores, a quem tributo todas as honras. Quero ser-lhes compatível. Quero merecer-lhes.

5. Confesso, Haroldo: creio, hoje, mais neles do que em toda a "tradição" teológica herdada. E, contudo, não debandarei de minha posição enquanto nascido dentro dessa tradição. Ficarei aqui, impertinente. Não farei, contudo, como Barth, não posso: abdicar da "razão" e agarrar-me ao dogma como "revelação" (com todas as prestidigitações teológicas próprias desse tipo de racionalização). Não posso, contudo, fazer como Vattimo, que não crê mais, em nada disso, mas acha que é últil para a manutenção do status quo que as palavras sejam ditas, porque, tais quais as velhas, "não voltam vazias", e põem "cada macaco em seu galho", se me entende. Claro que entende. Só me resta inventar-me, re-inventando-me por meio da crítica de minha tradição.

6. Para mim, Haroldo, é essa Teologia, como método crítico, e não como ruminação da "tradição" que deveria estar na academia. Posso, contudo, estar errado. Refletirei, criticamente, sobre essa minha posição. Mas acredite-me, amigo, com toda a honestidade - se a Teologia, de qualquer modo, não puder transformar-se em "ciência humana" (sem tergiversações, tangenciamentos, dissimulações, privilégios epistemológicos, essas coisas políticas e retóricas), não será preciso contar até dez - pulo fora.

7. Minha única esperança, Haroldo, como homem do século XXI, de encontrar valor em minha caminhada teológica é ela poder enquadrar-se no projeto de civilização desenvolvido pelos valores e paradigmas da República. Não me agrada uma Teologia que considere poder falar quanto e o que queira, porque o Estado é laico. Quero uma Teologia convertida ao Estado laico. O mais, não posso mais. Entendes-me? Não é um projeto institucional. Sou "eu". Minha carne.

8. Mas essa é minha eventual patologia, Haroldo. Não merecerá, decerto, preocupações maiores. Diante da avassaladora posição cripto-metafísica da Teologia acadêmica, a desconfiança profunda e radical de um desajustado não importa muito. O paquiderme sacode o torso, e a pulga cai. Eventualmente, um passarinho vem e come. E acaba a impertinência.

9. Mas, meu amigo Haroldo, algo me diz que placas tectônicas se encontram e se tocam, aí, nesse tema, com todas as conseqüências que o encontro de placas tectônicas traz.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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