"Por mais fiel e impiedosa que seja a descrição da sociedade existente, não pode por si só
estimular a ação para a sua derrubada se não houver a mediação da condenação moral (...) A partir daqui, a realização de uma nova ordem é sentida como um imperativo categórico'" (LOSURDO, A Luta de Classes, p. 103).
estimular a ação para a sua derrubada se não houver a mediação da condenação moral (...) A partir daqui, a realização de uma nova ordem é sentida como um imperativo categórico'" (LOSURDO, A Luta de Classes, p. 103).
No contexto, Losurdo analisa como erro a distinção que Althusser faz entre o jovem e o velho Max,, considerando que o jovem Marx fosse um tolo humanista e o velho Marx um maduro histórico-materialista. Losurdo, implacável que é, impiedoso na iconoclastia, demonstra como é equivocada a declaração.
Quero trazer a citação para meu contexto. Teólogos e cientistas da religião sabem que o monoteísmo é a pressuposição, também política!, de que só haja um deus (que seja sempre o "nosso" deus é um vício moral e econômico dessa plataforma filosófica, da mesma forma que o é a predestinação do eleito, que sempre somos nós). A despeito de saberem que se trata de uma plataforma exclusivista, implicada inexoravelmente em estratégias de silenciamento da alteridade por meio da dissolvição de todos os deuses ou em diabos, ou em vácuo, ou em hipóstases ignorantes do "nosso deus", esse conhecimento não se transforma em reconhecimento, essa ciência não se faz indignação... Não há denúncias. A condição monoteísta aparece, na prática, como um dado na natureza - descreve-se a curvatura da Terra, não se luta contra ela: descreve-se a condição monoteísta, mas só os tolos se indignam contra ela...
O que falta, portanto, à teologia e mesmo às ciências das religiões, é o imperativo categórico: a indignação moral, a única capaz de levantar o véu da indiferença e promover a luta contra a opressão: "não vos comove isso?". Não, não comove. Se não co-move, não há movimento...
Uma contra-prova. Há de se responder a essa provocação direta com alegações de que a pesquisa não se envolve com juízos morais. Mas você verá esses mesmos teólogos e cientistas da religião indignados com a escravidão, a opressão aos pobres, a homofobia, a misoginia... Nesses campos que, todavia, não são propriamente a sua profissão, eles pesquisam e se indignam. Mas no seu campo próprio de trabalho - a religião, a teologia - diante do pai-mãe de todas as opressões, o monoteísmo, não se vê indignação, não se vê ira, não se vê militância... Pelo contrário, você é capaz de ouvir sermões feministas, anti-escravagistas, defensores das condições homoafetivas, comprometidos com os pobres, cuja base de argumentação teológica seja "a justiça de Deus"...
Os ouvidos estão surdos...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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