sexta-feira, 8 de abril de 2016

(2016/101) Cinco observações sobre a "golpista incorporada" na Faculdade de Direito

I.

Eu entendo o sensacionalismo que se está a curtir com as imagens da "possuída"... Mas, cá entre nós, qual a diferença entre a performance da moça e a de milhares de pastores e pastoras de Jesus em seus respectivos púlpitos? Uma zapeada no Youtube encontrará muita coisa tão igual ou pior ao que a senhora de Loudun fez... O problema é o discurso político-religioso? Mas tem muito disso nas casas de Jesus também... Qual a diferença entre essa moça e o pastor batista de Curitiba? Só porque o moço fala pausado, ela é doida e possuída e o moço, não?

O mundo evangélico está muito parecido com essa performance: um circo louco de política da pior qualidade e religião ainda mais a dever...

Salvem-se as exceções...



II.

O problema da "doida" é a aparente loucura performática? Ou é a imbricação discurso religioso versus discursos político?

Bem, se for a "loucura performática", nenhuma novidade - o mundo evangélico hoje é praticamente isso - e quem não é, está fazendo as contas, a ver se vale a pena mesmo não ser...

Quanto ao imbricamento discurso religioso versus discurso político, sou forçado a admitir que ela não faz nada diferente do grosso que circula: tem pastor e pastora fazendo a mesma coisa, seja de direita, seja de esquerda. A gloriosa e latino-americana teologia da libertação não é outra coia que não imbricamento de discurso religioso e discurso político. Ou é condenável só porque é um discurso que "eu não aprovo"? Pois eu não aprovo é o próprio jogo de misturar política e religião, mas esse jogo é o jogo que quase todo mundo joga, seja fundamentalista, seja progressista, seja explicitamente, seja implicitamente, seja para a revolução, seja para a manutenção do status quo...

Ah, entendi... O problema é que ela é uma "doutora"... Bem, conheço doutores que fazem cultos como se doutores não fossem. São pastores, pregam, oram, servem a ceia e a eucaristia, batizam... O culto dessa doutora já é mais "popular", dito "pentecostal"... Mas, qual a diferença...? A cena daquele crente procurador a peregrinar pelas gélidas congregações tradicionais me causa mais horror...

Não importa qual seja o ângulo, não vejo diferença...

Salvo, claro, que é uma mulher descabelando-se... Aí, a gente deixa o lado machista-misógino fazer de conta que a possuída é exceção...



III.

Não vou tolerar no meu ouvido que a "doida" seja tratada como doida, enquanto os lúcidos que fazem a mesma patifaria sejam tratados como pessoas normais... Não há nada de normal em usar "Deus" para manipular emoções, consciências, cognições, cálculos... Tudo isso é um enorme crime social, um enorme genocídio civilizatório, seja praticado pela "possuída", seja praticado pelos enternadinhos tradicionais ou pelos engajados revolucionários de Jesus...

Definitivamente, não é ético...

Mas dois pesos e duas medidas é muito menos ainda...



IV.

O problema em dizer que o problema da "doida de Jesus" é que o discurso dela é fascista é que se fosse a mesma doida, fazendo o mesmo discurso de manipulação, mas não fosse fascista, fosse de esquerda, por exemplo, estaria legal...

Mas não estaria, não.

A coisa fede, seja para lá, seja para cá.

Como disse Aldous Huxley, em Demônios de Loudun, não se justifica moralmente...



V.

Se eu estou defendendo a "doida"? Não se trata disso: se trata de usar dois pesos e duas medidas. Se "todo mundo" usa "Deus" para fazer política, porque ela não pode? Porque é fascista? Mas há textos da Bíblia em que "Deus" é bastante fascista...

Não me choca apenas o fascismo da pregadora. Me choca qualquer uso de "Deus". Me causa horror na alma...

Mas eu acho que eu nasci 200 anos antes do tempo... Tempo em que olharemos para os púlpitos e sentiremos vergonha do que fazíamos...

Até lá, vamos de doidas e engravatados metidos a lúcidos...









OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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