domingo, 13 de abril de 2014

(2014/165) Espetáculo? Ou é rito público?


Se eu olho para um "espetáculo" - uma peça de teatro, uma ópera, observo que há, ali, duas dimensões - a dos atores e a dos expectadores. Os atores, atuam. Os outros, apenas assistem. Que se emocionem, aprovando ou reprovando a encenação exibida é irrelevante para o que aqui me interessa: são público, são plateia, são espectadores.

Agora, se eu olho para um show - seja pop, seja rock, seja gospel - ou se eu olho para um culto protestante, já não posso mais ver aí o mesmo "espetáculo" - no show, todos atuam. Atua o cantor, a cantora, a banda, mas atua, igualmente, o público, cantando, pulando, dançando, gritando: tudo ali é rito... Tanto quanto no culto evangélico: atua o pastor, mas atuam, igualmente, todos, cantando, gritando, pulando, dançando: tudo ali é rito...

Não sei se se pode aplicar o termo "espetáculo" à sociedade ou à igreja ou à religião. No Congresso da PUC-GO, grosso modo e com quase nenhuma notável exceção (conquanto tenha havido ao menos um esboço de crítica, mas tão sutil que acho que quase nem se captou), a palavra de ordem era "espetáculo" - a maioria das falas recebeu passivamente o termo e o aplicou à realidade da religião, como se fosse um fato, um dado, ao menos uma assertiva indiscutível...

Em minha cadeira, cada vez que ouvia, era como ouvir os termos desgastados, e de tanto sucesso e retumbante repercussão entre nós: desencantamento, pós-modernidade, espetáculo...

Acho que gostamos de repetir os europeus e anglo-saxões, os ditadores das modas e dos regimes discursivos... 

Não vejo espetáculo onde estão dizendo que há espetáculo: vejo ritos, ritos públicos, como quando cantávamos, na escola, o Hino Nacional. São ritos político-religiosos, programaticamente desenvolvidos para levar a determinado ponto de ação o conjunto da massa. 

Alguém retrucou, como sempre faz, nominalistamente: tem que ver o sentido com que estão usando o termo espetáculo, Osvaldo... E, para ele, está tudo resolvido... Mas, calado, eu pensei: se se pode chamar de rito, que é o que é, por que se chama de espetáculo, que não é?







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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