Você pode usar qualquer instrumento para fazer com que uma pessoa se comporte do jeito que você quer. Estamos falando de comportamento! Por exemplo, um porrete: cada vez que a pessoa fizer a coisa que você não quer, porrete nela.
A religião também pode ser um porrete de adestrar.
Ora, os deuses, no início e até há 2.500 anos, eram amorais, violentos. Eram como os amorais e violentos reis, já que eram mesmo a sua projeção retórica. Os homens, então, tornaram os deuses mais morais, ensinando-os a fazer o bem.
Vejam, meus amigos e minhas amigas: os homens, nós, as mulheres, nós, fomos nós que ensinamos os deuses a ser bons... A coisa mais sem pé nem cabeça que pode haver é alguém achar que os deuses ensinam as pessoas a serem boas e, então, propor-se alguma coisa como Ensino Religioso como ensino moral...
Funciona apenas como o porrete - a lei da recompensa: ou porrete na cabeça, ou petisco, se dá a patinha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Osvaldo, lembrei-me deste extrato do Norbert Elias: “Em conexão com o oscilante nível social de periculosidade, os contra-processos tornam-se frequentemente dominantes. Mas, apesar disso, até agora o processo da civilização permanece preponderante. A própria imagem dos deuses e deusas transformou-se no sentido desse processo soberano da civilização humana. Analogamente à sua função de suportes de uma auto-regulação relativamente débil, eles nunca perderam o caráter de seres atemorizantes. Ao mesmo tempo, civilizaram-se. A progressiva civilização dos deuses é, de fato, uma das comprovações mais expressivas da civilização a longo prazo dos seres humanos. Ela indica sua direção. Nas épocas primordiais os deuses eram em geral mais apaixonados, selvagens, instáveis. Um dia eram amistosos e cheios de bondade, no dia seguinte cruéis, cheios de ódio e tão destruidores quanto os seres humanos poderosos e as forças indômitas da natureza. Então reduziram-se progressivamente as oscilações. Assim como diminuíram nesse domínio as oscilações incontroláveis das forças da natureza – boas colheitas, más colheitas – e os perigos, também os deuses tornaram-se, na cabeça dos seres humanos, mais constantes, menos apaixonados e mais estáveis; surgiam, então, frequentemente, como figuras justas, morais, até mesmo amáveis e bondosas, sem perder inteiramente, como disse, sua capacidade de atemorizar”. (ELIAS, Norbert. Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 23-4).
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