sexta-feira, 25 de outubro de 2013

(2013/1221) Ensino Religioso como ensino moral


Você pode usar qualquer instrumento para fazer com que uma pessoa se comporte do jeito que você quer. Estamos falando de comportamento! Por exemplo, um porrete: cada vez que a pessoa fizer a coisa que você não quer, porrete nela.

A religião também pode ser um porrete de adestrar.

Ora, os deuses, no início e até há 2.500 anos, eram amorais, violentos. Eram como os amorais e violentos reis, já que eram mesmo a sua projeção retórica. Os homens, então, tornaram os deuses mais morais, ensinando-os a fazer o bem.

Vejam, meus amigos e minhas amigas: os homens, nós, as mulheres, nós, fomos nós que ensinamos os deuses a ser bons... A coisa mais sem pé nem cabeça que pode haver é alguém achar que os deuses ensinam as pessoas a serem boas e, então, propor-se alguma coisa como Ensino Religioso como ensino moral...

Funciona apenas como o porrete - a lei da recompensa: ou porrete na cabeça, ou petisco, se dá a patinha...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Leandro disse...

Osvaldo, lembrei-me deste extrato do Norbert Elias: “Em conexão com o oscilante nível social de periculosidade, os contra-processos tornam-se frequentemente dominantes. Mas, apesar disso, até agora o processo da civilização permanece preponderante. A própria imagem dos deuses e deusas transformou-se no sentido desse processo soberano da civilização humana. Analogamente à sua função de suportes de uma auto-regulação relativamente débil, eles nunca perderam o caráter de seres atemorizantes. Ao mesmo tempo, civilizaram-se. A progressiva civilização dos deuses é, de fato, uma das comprovações mais expressivas da civilização a longo prazo dos seres humanos. Ela indica sua direção. Nas épocas primordiais os deuses eram em geral mais apaixonados, selvagens, instáveis. Um dia eram amistosos e cheios de bondade, no dia seguinte cruéis, cheios de ódio e tão destruidores quanto os seres humanos poderosos e as forças indômitas da natureza. Então reduziram-se progressivamente as oscilações. Assim como diminuíram nesse domínio as oscilações incontroláveis das forças da natureza – boas colheitas, más colheitas – e os perigos, também os deuses tornaram-se, na cabeça dos seres humanos, mais constantes, menos apaixonados e mais estáveis; surgiam, então, frequentemente, como figuras justas, morais, até mesmo amáveis e bondosas, sem perder inteiramente, como disse, sua capacidade de atemorizar”. (ELIAS, Norbert. Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 23-4).

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