quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

(2012/871) Sobre o diabo que mora nos olhos do crente

_ Osvaldo, você acredita em curas milagrosas?

_ Pergunta difícil. A única coisa concreta é a cura. O milagre fica por conta de nossa leitura de fé, porque, se se pode dizer que foi milagre, é porque não se viu a causa da cura - e, então, se atribui ao sobrenatural. Logo, acredito em curas. Mas não posso apontar as causas diretas.

_ E isso não prova que foi Deus?

_ É uma assertiva de fé. Pode te
r sido. Pode não ter sido. Você pode crer. Mas não passa de crença.

_ Mas não é porque, no fundo, você não é um homem de fé?

_ E o que isso significa? Que se você não sabe distinguir entre crença e certeza, então você é um homem de fé - isso me parece mais a descrição de uma pessoa desinformada, apenas...

_ Seja como for, nós cremos na cura divina.

_ Não são os únicos. Os espíritas creem e operam curas.

_ Ah, não, mas lá é o diabo...

_ Você o viu? Você é engraçado: você não vê Deus curando, vê a cura - e diz que foi Deus. Lá, você não vê o diabo curando, vê a cura, e diz que foi o diabo. Você não acha que você está usando dois pesos e duas medidas e que está prisioneiro de falsos juízos? Você não acha que sua fé tornou obstinação e fez de você uma pessoa má?

_ Mas é que você não tem fé, então você não vê...

_ Mas, diga-me, você viu o diabo? Ou interpreta a coisa como sendo do diabo, porque ela ocorre entre espíritas? Se a cura ocorre na sua igreja, é Deus, no centro espírita, é o diabo... Não está vendo que, à medida que sua fé aumenta, você vai perdendo a jeito com os pensamentos?

_ É que lhe falta a fé...

_ A mim, talvez. À minha mãe, não. Quando eu tinha nove anos, tive uma doença grave na cabeça. Fui desenganado pelos médicos do Hospital de Jesus, no Rio, e passei dias urrando de dor. Minha mãe fez uma promessa a Nossa Senhora das Cabeças. Fiquei curado. Lembro-me do dia em que fomos à igreja. Minha mãe levou uma cabeça de cera e a pôs no altar.

_ Ah, isso é coisa do diabo...

_ Pois é: ele mora nos teus olhos, tem o rabo no teu coração e o tridente em tua língua..




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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