1. A má formação do leitor brasileiro é notória. Tornou-se um lugar-comum falar de "analfabetismo funcional". Falam-se em 70% como uma estimativa aceitável - apenas 30% da população teria condições de lidar com um texto de forma aceitável: ler, compreender, interpretar, reagir...
2. Ora, a formação nas Humanidades - em sentido amplo - dá-se basicamente por meio de livros. Se se lê mal, que tipo de formação, de fato, o sujeito teve?
3. É, pois, imperioso, para o estudante que se reconhece com deficiência de formação, superar essa deficiência - todo o mais é secundário. Nada, nas Humanidades, é mais importante do que ler e ler bem.
4. Em Teologia, nem se fala. A não ser que o sujeito queira apresentar-se em público como receptor de revelações imediatas, se ele de fato quer conhecer a Teologia, os autores, as obras, a História, os temas, os problemas, terá de ler e ler bem. Se ler e ler mal, talvez seja pior do que não ler. Porque é melhor encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de um assunto do que encontrar alguém que tenha desse assunto uma ideia completamente errada - por exemplo, tratar de Calvino como se fosse contemporâneo de Feuerbach.
5. Eu uso um texto para dar treinamento de leitura. É um texto difícil, mas modelar. Ele é quase aritmético, porque ele define os termos que usa. Ele é redundante, de modo que uma frase aqui explica aquela frase ali. E mais: ele emprega a linguagem cristã, mas avisa que está usando conteúdo budista - de modo que ele nos ajuda a aprender a ler em dois níveis - a superfície e o profundo, controlados pelo autor, que faz a coisa, diz como faz e diz como deseja ser entendido.
6. Se você consegue ler e entender esse texto - está pronto. Se não, acho que deveria parar o que está fazendo em treinar leitura.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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