1. Os leitores de meus textos sabem, de ante-mão e, se não sabem, descobrem na primeira leitura, que escrevo críticas e escrevo criticamente. Não sou de gastar tempo com louvaminhas, porque as louvaminhas não levam a pesquisa para a frente - rasgar sedas é atividade política.
2. Todavia, é necessário ter em mente que não critico todos da mesma forma. Não coloco todos no mesmo saco - sempre e em todas as circunstâncias.
3. Algumas diferenciações:
a) critico, no conjunto, todos os que se utilizam de Deus, de qualquer forma, para qualquer projeto. Trata-se de uma crítica epistemológica, política e ética. Nesse sentido, não estou julgando moralmente quem quer que seja - nesse recorte. Estou apenas dizendo que não me parece eticamente justificável nem epistemologicamente possível expressar-se em nome de Deus e, pior, utilizando-se dessa retórica para construir horizontes de sentido. Aqui, sim, critico igualmente pastores e teológicos tradicionais, pentecostais, católicos, neo-pentecostais, teólogos da libertação, quem quer que seja: porque, nesse sentido, nesse específico sentido, são todos iguais: "sabem" o que Deus quer, e movem pessoas a partir do movimento que promovem em Deus. Sobre isso, acho Feuerbach já disse o básico.
b) critico, em separado, e por razões ético-política, quem se utiliza do discurso de Deus para opressão de pessoas. Aqui, obviamente, há que se separas alhos e bugalhos. Há níveis compreensíveis de pastoral e de teologia confessional (epistemologicamente, não muda nada), mas, eticamente, sim. Uma coisa é uma teologia que diz que Deus quer que se ame (epistemologicamente reprovável, eu diria), outra, uma teologia que diz que se deve dar três dízimos...
c) critico ainda mais severamente aqueles que, por força, seja de a, seja de b, demonizam o pensamento, a crítica, o estudo, a pesquisa, a autonomia - e que, para o fazer, servem-se da retórica de Deus. Nesse sentido, b e c estão muito próximos. Todo teólogo e pastor do tipo b, fatalmente incorrerá no tipo c, porque, à primeira crítica, reagirá com virulência sagrada e revelada.
4. Não vejo razão para teólogos e pastores ressentirem-se de minha crítica de tipo a. Trata-se de uma constatação: se o sujeito expressa-se em nome de Deus, expressa-se. Como negará? Não estou dizendo que seja um sujeito mal, bandido, charlatão, sem-vergonha - estou dizendo que se expressa em nome de Deus. Meus ouvidos não podem (mais) suportar essa retórica, e minha consciência encontra razão suficiente para compreendê-la como perniciosa, a despeito das boas intenções eventuais de quem recorra a ela.
5. Naturalmente que se há, ainda, de fazer uma distinção naqueles que ouvem minha crítica à manipulação do discurso de Deus - há os que o fazem, porque acreditam nisso. Acham, mesmo, que podem falar em nome de Deus e, quando falam, acreditam mesmo que são porta-vozes do divino - e aqui cabem o santo e o canalha.
6. Há, todavia, o sujeito que sabe que não se expressa é coisa alguma em nome de Deus e, todavia, leva todos a crerem que sim. Bem, a esse, a crítica que faço não é mais apenas a a, é a a e a c.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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