terça-feira, 11 de dezembro de 2012

(2012/857) Meus cinco primeiros mini-contos - se é que são mini-contos

1. Ontem, bateu-me à cabeça a ideia de escrever mini-contos. Tentei. Fiz cinco. Talvez sejam mini-contos. Talvez não. Mas tentei fazer mini-contos que exijam atenção, que obriguem as pessoas a prestar atenção às palavras, às vírgulas, ao detalhe de uma palavra, como "nave", no mini-conto sobre pastores-mercadores.

2. Não, não são mini-contos para passar os olhos - o risco de passar os olhos e não se dar com o sentido que eu coloquei lá é enorme. 


3. Por isso, se não quer entender do seu jeito, mas do meu, leia com atenção e vagar...


V


Quando a tirou de dentro da água, tudo que ela fora e tinha havia se diluído. Nas mãos, agora, frustrada a esperança, escorrendo, apenas os últimos vestígios da tinta azul com que lhe protestara amor eterno na velha carta de 1943...

IV
O discurso era tão ensaiado, que ele se acostumara a deixar-se falar por meia hora, enquanto, fora da nave, ia visitando as exposições da Kia e da Hyundai, dividido que estava entre um Sportage e o Santa Fé...

III
Ali velado, naquela noite fria de 1876, guardado na penumbra de bruxuleantes velas de sebo, o corpo, inerte, apenas uma oração produzia - que por todas as misericórdias de Deus os licores de seu pai não encontrassem seus segredos de menina.

II
Abrir o livro pelo qual procurara por semanas fez toda a sua alma gemer de expectativa pelas horas de prazer que antecipava em cada centímetro do corpo, enquanto, sorrindo, olhava o número dela, no cartão, guardado à página 69 de A Insustentável Leveza do Ser...

I
Sovava-a, batia com força nela. Não como quem a odiasse, mas como quem fez disso a profissão de uma vida inteira. E fazia-o há tanto tempo e tão bem que os pães eram os melhores dentre todos os padeiros de Montes Claros.




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio