1. Ontem, bateu-me à cabeça a ideia de escrever mini-contos. Tentei. Fiz cinco. Talvez sejam mini-contos. Talvez não. Mas tentei fazer mini-contos que exijam atenção, que obriguem as pessoas a prestar atenção às palavras, às vírgulas, ao detalhe de uma palavra, como "nave", no mini-conto sobre pastores-mercadores.
2. Não, não são mini-contos para passar os olhos - o risco de passar os olhos e não se dar com o sentido que eu coloquei lá é enorme.
3. Por isso, se não quer entender do seu jeito, mas do meu, leia com atenção e vagar...
V
Quando a tirou de dentro da água, tudo que ela fora e tinha havia se diluído. Nas mãos, agora, frustrada a esperança, escorrendo, apenas os últimos vestígios da tinta azul com que lhe protestara amor eterno na velha carta de 1943...
IV
O discurso era tão ensaiado, que ele se acostumara a deixar-se falar por meia hora, enquanto, fora da nave, ia visitando as exposições da Kia e da Hyundai, dividido que estava entre um Sportage e o Santa Fé...
III
Ali velado, naquela noite fria de 1876, guardado na penumbra de bruxuleantes velas de sebo, o corpo, inerte, apenas uma oração produzia - que por todas as misericórdias de Deus os licores de seu pai não encontrassem seus segredos de menina.
II
Abrir o livro pelo qual procurara por semanas fez toda a sua alma gemer de expectativa pelas horas de prazer que antecipava em cada centímetro do corpo, enquanto, sorrindo, olhava o número dela, no cartão, guardado à página 69 de A Insustentável Leveza do Ser...
I
Sovava-a, batia com força nela. Não como quem a odiasse, mas como quem fez disso a profissão de uma vida inteira. E fazia-o há tanto tempo e tão bem que os pães eram os melhores dentre todos os padeiros de Montes Claros.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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