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2. Todavia, um outro discurso de Nietzsche se destaca, talvez depois que ele tenha percebido que a modernidade se constituía a partir de e sobre a retórica de compaixão própria da tradição cristã. Nesse momento, Nietzsche se torna implacavelmente crítico. E, aí, ele é útil...
3. O que Nietzsche tem a dizer da Bíblia, por exemplo, quando se expressando por meio dessa última "fase", é que é um livro de sacerdote. No conjunto e nas amarrações, ele está certo - certíssimo.
4. Sim, há lá, no meio, profetas e sábios. Mas são todos eles, profetas e sábios - o próprio Jesus, alguma coisa entre um e outro, talvez, mas, jamais, em nenhuma hipótese, "sacerdotal" -, foram cooptados pela alma sacerdotal, de modo que a Bíblia, enquanto conjunto, seja o AT, seja o NT, é sacerdotal.
5. A sua marca fundamental é a morte. A morte - a matança, o cutelo - parece ser a neurose divina na Bíblia. Naturalmente que o leitor e a leitora entendem que falo dos autores, vários, que escreveram os textos: a morte habita as suas entranhas...
6. Morte, a deusa, mãe-avó e mulher de Deus. Deus mata a humanidade toda no dilúvio, mata os egípcios, mata os judeus, mata os cananeus, mata o próprio Filho e matará a todos no final, exceto os "seus"...
7. Morte...
8. O pior de tudo é que se usa a palavra "amor" para embrulhar esse coração sacerdotal...
9. Essa morte está lá por uma razão específica: o Templo vive de morte. Nada mais se faz ali, salvo matar. Mata-se de manhã, mata-se de tarde, mata-se de noite. Mata-se tão trivialmente que é necessário criar uma ocasião especial para a morte especial: uma grande morte, maior do que todas as mortes cotidianas...
10. Depois, canta-se. Mata-se e canta-se. Morte e cânticos. Você vive num lugar assim e se torna um tanto desequilibrado.
11. Seu desequilíbrio se agrava, ainda, por uma especificidade dessa matança - é uma matança por causa do pecado. O povo não presta, é pecador, Deus quer matá-lo, mas, para não o matar - ainda! - aceita que se matem bichos no lugar do povo.
12. Não se trata de uma festa, como no candomblé, em que se matam bichos para alimentar os deuses. Não é uma festa - é um tribunal, é judicial a coisa toda, é o redirecionamento da ira e do ódio "santos"...
13. Imagine um sujeito vivendo dez anos nesse lugar. Ele só conhece a morte e a condenação. Quando olha para um judeu, só vê trapos de menstruação, como dirá Isaías. Não sabe, não aprendeu, não lhe ensinaram outra coisa que ver - só a condenação...
14. Por isso, acho fundamental, revolucionária, cabal, inapelável, a fala de Jesus à mulher adúltera...
15. Não te condeno!
16. Cessem as mortes!
17. Terminam aqui, hoje, as condenações...
18. Mas, então, vem Paulo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Vem paulo é?
Fiquei curioso professor
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