quarta-feira, 21 de novembro de 2012

(2012/783) Novos fragmentos facebookianos para memória de algum dia

I.

O "outro" é livre.

Isso deve ser levado até as conseqüências mais profundas.

Durante milênios (não creio num matriarcado original - não acho que haja base paleontológica e histórica para isso), a mulher foi mercadoria do homem. E tanto que, nos 10 mandamentos, ela é arrolada na rubrica "não cobice os bens do teu próximo - a casa dele, o jumento dele, a mulher dele".

A mulher foi propriedade do homem até há pouco mais de cem anos. Foi assim em toda a Bíblia. Foi assim em toda história da Igreja - nos dois, três lados dela (catolicismo, ortodoxia oriental e protestantismo), foi assim no Ocidente cristão.

Só depois do processo de secularização e, finalmente, com os Estados modernos, democráticos e laico-republicanos, é que ela, finalmente, ganhou alforria.

O casamento, então, tornou-se "por amor". Contra isso vergou Nietzsche seu chicote de fogo. Profeta, sabia que, com o "amor" por razão, o casamento não teria garantia alguma de durar...

E não pode ter.

Se a mulher é livre, é livre para ficar, é livre para ir. 

Acordar de manhã, todos os dias, e saber que ela é livre. É hoje que te vais, amor? Não, ficarei mais um dia.

Não me admira nada que os homens tenham horror à liberdade, conquanto a queiram para si. E homens religiosos, então, horror ao cubo.

A liberdade lhes revela, sem dissimulações, que eles não estão no controle: só quando se fazem de mercadores, e fazem delas as suas mercadorias...

Bel ficou mais um dia.

Amanhã, outro dia para ela decidir.


II.

Ame tão profundamente que a perda desse amor há de matá-lo, há de matá-la. Corra o risco. Mas lembre-se: não há garantia alguma - e a morte, certamente, faz as suas apostas... O amor não lhe deve absolutamente nada. O risco é seu. Seu e apenas seu.

Vai saltar?


III.

Por que eu jamais poderia ser um verdadeiro budista?

Porque "o amor às vezes dura, mas às vezes ele machuca"...

Doer é a outra parte necessária do prazer.

Aceito a dor.

E conta as horas pelo prazer do outro lado...


IV.

Eu entendo os dedos ao piano, ágeis, velozes, longos, automáticos. Eu entendo. Estão por sua própria conta, sozinhos, quase cada um por si mesmo, acariciando ébano e marfim, yin e yang, dia e noite, sem que seus donos os comande... 

O treinamento automatiza, torna o cumprimento de um roteiro e de um rito treinados à exaustão, até que seu registro entre profundamente nas regiões do cerebelo e do h
ipotálamo, longe das áreas da consciência...

Um pianista é um homem em transe...

Bravo! E que seja...

Mas não será assim que se tocará o corpo da mulher amada: não se terá treinado à exaustão! Cada vez será a primeira, trêmulos os dedos como a primeira e impudica vez, trêmulas as carnes, arfante o peito, inebriante a expectativa...

A longa preparação do amor não fará deles espécimes automáticos - fará deles apenas pequenos animais de pelo atrás das nozes que eles sabem onde estão, pequenos porcos de floresta atrás das trufas escondidas, pequenos pássaros de tenros ninhos atrás dos pelos já experimentados...

O amor é Natureza, não é sala de espetáculo...


V.

Se é possível à fé cristã conviver pacificamente com todas as outras?
Bem, sob determinadas condições, sim.

Primeiro, tirem-se os imbecis das lideranças. Os imbecis da fé são obstáculos à paz - para encherem seu ventre, pregam o ódio em nome de Deus. Stop a canalha...

Segundo, assuma-se que o homem é maior do que a fé que ele carrega. Só assim, quando ele ler na Bíblia uma ordem indecente, anti-ética e má, ele faz de conta de que não leu.

Porque, enquanto imbecis estiverem à frente e os homens se ajoelharem diante das maldades da Bíblia, não, não haverá paz.




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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