segunda-feira, 29 de outubro de 2012

(2012/716) Auto-parto: sala de aula de teologia como auto-parto


1. A sala de aula de teologia é um centro de obstetrícia.

2. Mas não há parteiros ou parteiras...

3. Se há professor que se considera obstetra - é tolo ou manipulador, "discipulador", gostamos de falar, essa paródia de pedagogia... Um "discipulador" não é um pedagogo, um "mestre", é um ser replicante, um narciso a se clonar na retórica do discipulado...

4. A sala de aula não faz discípulos, e, se faz, não é sala de aula...

5. Ninguém tira ninguém do útero onde ele está...

6. A placenta terá que arrebentar por conta própria, pela força que o próprio estudante faz, se faz, quando faz. Se não faz, ela ficará cheia da água amniótica da tradição, da doutrina, do discipulado, e o sujeito boiará lá dentro, heterônomo e morno...

7. Mas, se ele, estudante, se ela, aluma, fizerem, por si mesmos, força, e arrebentarem placenta e cordão, darão a luz a si mesmos. Eles, elas, seus próprios obstetras, suas próprias parteiras...

8. O que faz o professor? Das duas uma: ou assusta o coitado, e ele se enfia cada vez mais fundo no útero onde está, ou encanta tanto a pobre que ela só pode, agora, querer sair de onde está, arrebentar a caverna úmida onde mora, e raiar para si mesma, como o Sol da manhã....

9. Mas eu duvido que haja mérito no professor...

10. O mérito é todo do parturiente de si mesmo - e também a culpa de se manter trancado no útero de onde veio e onde está.

(...).

11. Nunca dei à luz ninguém, a não ser eu mesmo...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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